sexta-feira, 17 de novembro de 2017
Embrenhava-se naquilo e esquecia-se do mundo. Entrava num mundo que fazia seu, onde se falava sem palavras, onde se comunicava em sentires, onde as imagens tocavam e onde era impensável perseguir uma verdade, a certeza do que é certo e definitivo, porque se sabe que as respostas são tantas e as verdades multiplicam-se em conclusões opostas. Ali não sabia a verdade, sentia-a, como se sente calor ou frio, conforto ou desconforto - e isso não era uma conclusão, mas a única verdade. Entrava na história que o absorvia, nas piadas de que ria, no desejo que lhe inundava a existência, no estar-se bem, chegando a esquecer-se dele, e de todas as verdades que lhe exigiam e esperavam dele, e que ele se exigia esperar o mesmo. E era quando se perdia dele que se encontrava. E naquele pedaço idílico perdia o tempo de que ganhava vida. Depois ela chegava, entrava na sala, (im)punha-se à sua frente, e ele emergia do paraíso que se esconde do mundo, fechava a porta, pegava no comando e desligava a televisão. Assim. Desligava e deixava de existir...desligava para a ouvir. Desligava para ela ser. Sempre. Era assim que o mundo tinha sido desenhado - ela aparecia e tudo o resto tinha de se desligar, até ele... E ele que nunca lhe apetecia ouvi-la, nunca a desligava. Mas também nunca a ouvia.
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