segunda-feira, 7 de agosto de 2017




... às vezes acontece-me surpreender-me num espelho inesperado e não me reconhecer logo, como se a imagem que os outros vêem de mim - quando a vejo -não pareço eu. 
Eu, que me vejo só no avesso da pele, em pensamentos que se falam para dentro, em coisas que não saem desta caixinha que é o corpo, que guarda a alma e a expande com todos os sentidos da pele, tudo aquilo que nos identifica como pessoas e, principalmente, para nós mesmos - aquilo que não se vê. 
É como com a voz, quando ouvimos a nossa voz gravada nunca parecemos nós - ou melhor, nunca nos parece a voz que temos por nossa. A mim, com o corpo, com a aparência, acontece-me o mesmo. Acontece-me olhar para um espelho fora da órbita normal, ou fora da órbita da minha atenção, e, quase em sobressalto, dou conta que sou eu. Muitas das vezes a surpresa não é boa, mas essas vezes curiosamente não me chocam muito, já as outras sim. E hoje aconteceu isso, com a luz rasa de fim de dia, com o sol já a abraçar o horizonte, com aquela luz dourada que acalma o meu próprio horizonte, dei pelo reflexo de mim no retrovisor do carro. E gostei. Gostei da cor, gostei do cabelo caído em desarranjo, gostei da simplicidade do fio que tem a esfera precisamente numa covinha que gosto - havia um filme que me marcou, um dos filmes da minha vida, que falava precisamente nessa covinha, não naquilo que alguém chamava de saboneteiras, também elegantes, entre o pescoço e os ombros, não, era aquela covinha singela de que ele não sabia o nome e não sabia como seria possível um lugar tão bonito de feminilidade não ter nome, e que no filme ele reclamava para ele. Nunca me esqueci da covinha do filme do paciente inglês.
...Gostei de ver a imagem do espelho e afinal era eu. Curiosamente era eu, estranhamente era eu. Não que fosse uma imagem muito bonita, ou marcante, ou de assinalar, só me surpreendeu ser eu. Havia qualquer coisa que eu gostava ali, e que depois, analisando mais atentamente, era algo tremendamente meu, e melhor que isso, eu gostei dela... a simplicidade, a pele nua, as orelhas despidas, o cabelo despreocupadamente caído com a espontaneidade do momento. Muito eu, e incrivelmente, era mesmo eu, acabei por registar o mais próximo da imagem que vi no retrovisor, porque me passou tudo isto pela cabeça. Porque às vezes não me pareço o meu corpo e não me reconheço nele. Outras sim, outras ainda, depois de o reconhecer meu, gosto, pelos motivos mais estranhos, nas alturas mais improváveis, como ir há dias de jipe (sim, acho que sou mesmo mocinha de jipe, ando a pensar cada vez mais nisso e na quantidade de coisas que eu não tinha descoberto de mim), com o meu irmão, acabado de chegar, ao supermercado da vila a uns Kms de distância. 
Gostei. Estranho, hum?

Bom dia!

4 comentários:

  1. Tão fofinha a minha Vi... usa um chapelito que o Sol anda a dar tautau nessa cabecita! E daqui a nada a paciente és tu :)))))))))

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    1. Olá Vâ,
      Espero que não leve a mal o diminutivo, mas uma vez que me chama "minha Vi" ainda que não a conheça de lado nenhum e, como tal, sua não sou nada... ( ou será que conheço e não sei? Poderá esclarecer-me se quiser...) e, de facto, a mim não deverá conhecer (apesar de pelos vistos me ler há algum tempo para saber desse diminutivo carinhoso que me puseram e de que gosto, como tantos outros tão originais que já me deram ..) porque eu de fofinha não tenho nada, nem quero ter ou parecer ter. E não preciso disfarçar o que sou... mas seja bem vinda a este meu recanto da blogosfera. Perdoe-me se não percebo o tom do seu comentário, desde a suposta intimidade aos laivos de acidez amarga que se denota em alguém que tira uns minutos do seu dia para deixar este tipo comentário... mas poderá esclarecer o engano, caso seja esse o caso.
      Devo ainda dizer, em abono da verdade (coisa que alguns seres ainda prezam), que paciente é coisa que não sou, nunca fui munida de muita paciência... não há pachorra para certas coisas. Quanto ao resto, eu aconselharia a continuar a terapia, pode ser que um dia tenha os efeitos desejados... há que não perder a esperança, há milagres todos os dias (dizem os crentes...) mas terá de me perdoar em não fazer parte das consultas de terapia de grupo. Terá de continuar como está...
      Ahhh... e quanto ao sol, não se preocupe, ele pode dar-me tautau na cabecinha à vontade que não se pica, não há perigo de perfuração alguma... coisa que não se pode dizer de algumas das cabecinhas que por aí andam... ;)
      Passe bem, Vã, e volte sempre :))))))

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    2. Claro que não me importo que me trates por Vã, minha Doce Vi, até porque seria um belo título para descrever este teu assomo de palavras e imagem publicadas.. :)))))
      Giro é sentir como te picas comigo ao tratar-te por Vi, e te desdobras em baba envaidecida com outros que usam este epíteto contigo.
      Gosto tanto de ti meu anjo. O Sol anda mesmo a toldar esse discernimento de pito de pita tardia aos saltitos...
      Passa bem Fofinha. Mas usa factor 50!! :)))))

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    3. Ahahah essa do pito e da pita, fez-me rir, lembra-me os tempos de liceu :)) não me lembraria de a usar hoje em dia, realmente já devo ter passado a idade, pelo menos mental, para tal...
      Enfim, para tentar responder minimamente, e na medida do possível, ao comentário... não, não é questão de me picar é questão de não gostar de certos tons e ainda menos de intimidades com quem não conheço... não sou muito dada, confesso, mas percebo que haja quem seja. Nada contra, desde que não comigo. Há pessoas que me lêem há bastante tempo, algumas vêm até de blogs anteriores, outras são pessoas que me deixam comentários com a frequência suficiente para se criarem afinidades e cumplicidades, brincadeiras até. Pessoas que prezo. No seu caso o comentário tinha (e não me enganei, continua a ter) um tom amargo e de mau gosto, pelo que estabeleci logo as devidas distâncias, que, ao que dá a entender, lamentavelmente não foram compreendidas... realmente não percebo porque há-de alguém ler-me, e aparentemente já há algum tempo, não gostar, achar as palavras vãs e as imagens igualmente, e continuar a vir cá... e resolver, além disso, tirar uns minutos da sua vida - que por pouco interessante que seja, continuo sem compreender -, para comentar sobre o que na sua opinião (tem direito a ela, e não a discuto, ainda que não a tivesse pedido) são palavras vãs... não sei, eu diria que se alguém está picada não sou eu. Eu percebo que cada um dá o que tem, e há quem só tenha veneno para destilar, mas convém moderar a coisa para não parecer tão mal... mas isto é só um conselho.
      Se acaso lhe fiz alguma coisa, algum mal e não sei, talvez seja de melhor tom usar o Mail, mas cada um sabe de si e tem a sua medida de dignidade ou falta dela, e como a expõe...

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