Ontem foi dia do Pai. E tomei café com ele na varanda cá de casa. Há mais de um ano que não vinham cá a casa. Ontem aconteceu. Passaram de carro nas suas (poucas) voltas fora de casa, e viram-me. Pararam e subiram, o meu pai tinha levado pilhas novas (como ele diz) na consulta do dia anterior e lá subiram, ainda sem elevador. O meu pergunta-se se ainda o estreará. Eu sei que sim porque não sei saber outra voisa, nem quero. Tirei dois cafés e fomos para a varanda, longe mas à distância do olhar. Estava sol, mas frio, mas lá fora é melhor que cá dentro, e lá ficamos um bocadinho, eles os dois e eu, a miúda um tico ainda antes da aula. Não fossem as máscaras depois do café, quase parecia normal. Ou melhor, quase parecia que não temos de andar a fugir do vírus, normal há muito que não é. Antes de saírem disse-lhe:
- amanhã vou fazer um bolo e levo-o para comermos no jardim, que hoje é dia do pai.
- Ahh é? Então devia ser hoje, ora!!
- Pois, mas não foi, hoje foi a notificação para amanhã, e café...
Ele riu-se, sei que prefere a uma qualquer prenda, prenda só talvez vinho, para o bebermos juntos, o que agora não acontece... e prefere porque é guloso, sim, mas principalmente porque sabe que é um mimo especial. Sabe que só me enfio na cozinha por pessoas que gosto, que quero mimar, pessoas que quero que saibam que gostar de as mimar faz-me gostar de me enfiar na cozinha e ver o que sai... e se irão gostar (vulgo se estará comestível, ou pelo menos não-intragável...)
Estou aqui à espera que o forno acabe a sua magia, para lho levar e dizer que quero muito para o ano fazer-lhe outro, quero muito, mesmo muito. E acho que ele sabe, mas não dizemos nada. Somos esquisitos, dizemos coisas sem falarmos. Somos uma família estranha, e isso é normal. Sempre foi.
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