quinta-feira, 18 de março de 2021

 


Ando para falar desta moça há tempos, mas adio por preguiça, ou qualquer outra coisa que me faz não querer seguir o fio à meada. Porque tenho sentimentos muito diversos em relação à bicha. Tem muita coisa que me irrita até à medula... nunca me passei tanto com um bicho. E acho que nunca admirei tanto uma ternura assim, um coração que só deve vir em tamanho de cão e este mesmo nessa categoria é enorme, incomensurável. A mãe conquistou-me e é muito mais minha, esta é um caso à parte, outra categoria, ou talvez, sem categoria que lhe caiba. Já levou umas tareias, que não lhe doem mas me deixam as mãos feitas num oito, ela é dura como ferro, só músculo. E inconsciência, completa. É uma criatura com um jeito muito próprio, ou muita falta de jeito. Tem focinho de patetona, nunca conheci focinho com ar tão pateta, e ela está à altura do focinho, só vos digo. Se fosse gente devia ser daqueles super optimistas, cheios de teorias positivas e muito inconsciente. Nada a faz parar, ou pensar. Faz uma asneira agora, fica de castigo, mas durante o castigo já não se lembra (ou melhor não quer saber), já passou, já está feliz e pateta outra vez. Não aprende. O que pode ser giro às vezes. E é. Mas faz-me pensar coisas que não gosto. Que há criaturas que não aprendem, que foram feitas assim, e pronto. Estupidas basicamente, e sem conserto à vista. Nem todas optimistas e sempre felizes e inconscientes. Não, algumas nada disso, mas sempre a especializar-se em erros diferentes da mesma estupidez. Portanto esta criatura ao mesmo tempo que me irrita solenemente e me lembra coisas que não me apetecem, enternece-me duma maneira que me desconcerta. Que não cabe ou sabe de moldes. É duma meiguice e duma doçura bruta que é impossível resistir, só não sendo estupida talvez se possa resistir e racionalizar, ou assim... Não é o meu caso, obviamente. 

E é isto, foi-se chegando e achou por bem contribuir com o seu ioga, esticando-se ao meu lado no tapete. Gosta de me sentir à altura do seu focinho. Gosta do focinho a focinho como quem gosta de um tête-a-tête. Eu deixei-a ficar, esticada ao lado do tapete, a olhar para mim com aquela patetice inata em que o seu olhar está mergulhado, e nos abalroa em misericórdia. Depois, no fim, na posição de chinês - eu, isto é, não ela - achou por bem sentar-se entre os meus joelhos. O que rapidamente passou ao deitar-se, e em menos de um fósforo adormeceu. Tem uma vida muito agitada e cansativa, pois... Tive de registar, porque me ri verdadeiramente hoje com ela, e sorri e lhe dei mimo e gostei da companhia no ioga, e na sua maneira parva de mimar os outros. Esta criatura tem qualquer coisa, mas uma qualquer coisa que nao entendo. E ora me leva ao inferno, ora nos mimamos em momentos divinos. Como hoje.

2 comentários:

  1. Olvido,
    que delícia de fotos!! Prontos, Pantufa em miniatura e com mais pêlo. Não faz ioga, mas puxa-me o cabelo quando me sento no chão encostada ao sofá.

    Cá para mim ainda vai ser instrutora de ioga[risos]

    Parabéns pela tua menina de quatro patas, encantadora!

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    1. Estas criaturas são realmente um bálsamo de ternura e meiguice às vezes :)
      Obrigada, esta é a filha maluca da minha Pintarolas com o canídeo mais antigo cá do prédio e já da família também, ficámos com a peste, em guarda conjunta, e que bela peste esta :)) às vezes é irresistível o raio da miúda...

      Bejo para ti, Perséfone

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