Estou perfeitamente entranhada de confinamento. Saio de casa mais ou menos duas vezes por semana nos últimos dois meses, uma para ir ao supermercado e outra para comprar cigarros, como ontem. Hoje ou amanhã será o dia de supermercado. Fora isso só para ir ao hospital quando é preciso e levar a tracção às quatro ao jardim aqui perto, que para mal dos pecados dela não tem sido muito frequente. A verdade é que sinto cada vez menos falta, e o que me falta mais é tomar café numa esplanada - que substitui pela minha varanda - e os meus retiros para ler e não fazer nada, longe daqui, onde os olhos se lavam noutras paisagens e a alma se aninha num silêncio que aconchega. É o que me faz mais falta, curiosamente. E para a semana estarei de férias e ainda que tenha que trabalhar alguma coisa durante a semana (porque sou parva, mas é defeito de fabrico, já não muda) apetecia-me ir para um daqueles sítios que descubro no meio de nada que têm tudo o que me apetece. Mas não, não vou, vou ficar pela varanda e apostar em caminhadas e leituras na varanda, e adiantar trabalho que deixei atrasar. Mas apetecia-me tanto, mas tanto. Até a viagem até lá, até isso me apetecia. É estranho não é? Quero estar sozinha quando sozinha é o que estou grande parte do tempo, só quero uma solidão que possa verdadeiramente aproveitar. Não são todas iguais, suponho que como as companhias. Nem todas oferecem o mesmo e algumas roubam-nos tanto. Tempo algumas, outras muito mais que tempo.
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