domingo, 7 de junho de 2020

[Pablo Neruda]

Há noites em que não faz sentido apagar o dia sem lhe sentirmos a luz. Nestas noites percebo, relembro, por que quase todos os meus livros de cabeceira, que se amontoam ao meu lado debaixo do candeeiro, são de poesia. Há noites em que o dia falta mais, e é talvez nessas que me procuro entre as resmas de folhas poisadas, fechadas, cheias por dentro. Folheio ao acaso, ou persigo marcas antigas, que outras noites deixaram. E é tão bom... gostar do que se encontra... encontrar o que não se espera e  gostar, ou recordar o que se gostou, porque se volta a gostar, outra vez. Como um passado que é agora, porque ainda somos nós. Para as noites vindouras de fome insaciável de qualquer coisa inominável, esta ficará marcada. Como as cinzas, que silenciosamente vão caindo, no trilho para novas maçãs. Marcam o caminho, mostram-nos quem somos... e o que tanto de nós dirá, como o que nos falta?


2 comentários:

  1. "...encontrar o que não se espera e gostar, ou recordar o que se gostou"
    E assim vive-se a vida melhor.

    Bom domingo, Vi:)

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    1. :) para viver a vida melhor se calhar é preciso aprender a recordar o que se gostou, aprender a recordar sem dor, ou aceitar apenas que a dor vem durante muito tempo por ondas, é aceitá-las, permitir-lhes as suas marés e o seu tempo, não o combater... não vale a pena, e por outro lado nao nos impedirmos de nos surpreender, de podermos vir a gostar de novas coisas, ou não, mas não nos impedirmos, não nos boicotarmos... talvez isto ajude a viver melhor, talvez. Eu ando a ver se aprendo ;)

      Boa noite, Legionário :)

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