[foto @nihan.tezer]
Há qualquer coisa de ternurento na beleza dum campo de papoilas. Sempre tive uma coisa por papoilas, já aqui escrevi (ou então foi noutro sítio, já não sei). Lembra-me a infância em que ainda tinha o meu avô, e que no canteiro do prédio da casa dele, agora minha, havia muitas papoilas. À desgarrada, sem pedido ou licença, como todas as melhores coisas. E eu gostava, e fiquei sempre a gostar. Talvez por isso imagens de campos pintados de papoilas me dêem alguma sensação de tranquilidade, de paz doce. Daquilo que hoje, quando me levantei, me apeteceu vestir a alma, demasiado nua há tempo demais. Demasiado muda há luas demais. Será que a alma, se não a usarmos para o que realmente serve, também caduca? Estraga-se? Desaprende? Esquece? Olvido para a alma também pode ser bom, às vezes o melhor... Ontem à noite dei por mim a pensar - até por tudo que temos passado nos últimos meses - que a privação cura-nos de muitas vontades. E que a privação, desde sempre, de amor, cura toda a vontade de amar, por desconhecimento, por medo, por tão longe estar da zona de (des)conforto em que crescemos e a vida ensinou alguns a viver. A grande fatalidade é tropeçar nele, e depois fugir-lhe e a toda a vontade, mas tê-la, como uma segunda pele, uma de que temos consciência tempo demais, porque grita no silêncio do ruído dos dias. Ou como uma memória afundada no tempo que às vezes acorda connosco, acorda-nos, com uma sensação tão presente como um desejo de anos que o tempo não levou, não apagou. Não estragou, guardou incólume. Como a sensação que tenho quando vejo imagens de papoilas, tão frágeis, tão selvagens, tão vivas, tão fortes, tão ternurentas... e tão minhas, da minha infância e do meu avô, perdidos que estão os dois e ainda tão dentro. Talvez a privação nos cure da vontade, nos ensine o que não podemos ter, mas não cura a dor de ter tido.
Sabes Vi, acho que precisamos actualmente mais do que nunca, tal como escreveste de "sensação de tranquilidade, de paz doce."
ResponderEliminarHoje deixo-te um abraço:)
Um abraço doce, cheio de tranquilidade, para ti :) e um beijo
EliminarBom fim de semana, Legionário
Visto daqui a alma está viva, e cresce, a tua claro, a minha enlouqueceu faz tempo, o que também é bom
ResponderEliminarSinto-a tão minguada, nada crescente, sabes? Acho que gostava que voltaase a ter uma loucura boa, selvagem para não me dar hipótese de a querer domar...submeter-me à loucura, simplesmente. :)
Eliminarsei bem de que tentação falas, sei bem.
ResponderEliminarmas...
... eu às vezes não sei, mas apetece-me uma loucura qualquer a correr nas veias, que nos reapresente a vida ;))
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