E ao terceiro dia chegou a falta da paisagem no caminho, que nos mostra que o tempo passa mesmo quando não damos conta que passa, que passou. Falta-me a viagem de manhã e o regresso com as cores quentes que fazem o olhar respirar fundo. Falta-me o cigarro a meio caminho a fazer ponte entre o dia e o receber a noite. Faltam-me os rituais que eram meus. Gosto de rituais, não gosto de hábitos, que parece terem gasto o propósito ou o gosto. O ritual cumpre-se por gosto, não por obrigação ou quando o sentido se esvazia. Talvez por isso ao terceiro dia o sentido se tenha ressentido do vazio que lhe dei. Resta-me a varanda e a noite de verão na pele.
Passar à outra margem não significa necessariamente uma deslocação para outra parte diferente daquela onde já nos encontramos. Às vezes tudo o que nos falta é habitar a nossa vida de outro modo. É simplesmente caminhar com outro passo pelos caminhos que já fazemos todos os dias. É abrir a quotidiana janela, mas devagar, tendo consciência de que a abrimos. É reaprender outra qualidade para um quotidiano talvez demasiado abandonado às rotinas e aos seus automatismos.
ResponderEliminarJosé Tolentino Mendonça, in "O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas"
Tarde boa, Olvido
[ e eu a pensar que já estavas no merecido descanso, sorry ]
:) sim, "é habitar a nossa vida de outro modo", concordo. Fazê-la nossa ainda mas de outra maneira. Novos rituais surgirão, não tenho dúvidas.
EliminarQue noite tão boa esta, Perséfone :)
[ainda não, mas lá chegará... ;)]
beijo para ti