domingo, 23 de junho de 2019




Às vezes ainda sinto o abraço como se estivesse lá dentro. Quase sinto o calor, os braços à minha volta, aquela força que é segurança boa, a cabeça encostada ao peito onde quis fazer casa, o cheiro da pele, a tranquilidade de estar no momento, ser tanto o momento que é como se toda a vida fosse minha. Como se o tempo acabasse ali, e começasse. E, afinal, não houvesse essa coisa a que chamam tempo, que traça fronteiras e faz contas, até cobra taxas. Às vezes parece que quase sinto debaixo do nariz a pele que afinal nunca teve o cheiro que lhe dei. Dizem que há coisas de pele, de cheiro, de química, de paixão. E que têm um tempo. Há momentos sem tempo, isso eu sei. Ficam nas fotografias que tiramos sem máquina, e que as que tiramos com máquina, tempos depois, nos lembram e nos roubam por nada nos tirarem, pelo contrário, quais tiranas, amarram-nos ao tempo aprisionado no tempo que passa.
Talvez as coisas tenham um tempo, sim. E talvez esse tempo acabe.
Para eles ainda não acabou. E eu acho lindo. Nada dessa beleza se me amargou. E quero. Quero o abraço pelo lado de dentro, não quero quase memória. Não quero quases. Quase nunca. Quase sempre... quase.
Os pensamentos trespassam-me, mas o comboio não pára. Só as palavras encontram apeadeiro, quase perdidas, recupero-as no último relance duma fotografia que podia ser minha, se a minha vida tivesse sido real.

4 comentários:

  1. Olá Vi, hoje deixo-te um abraço do tamanho do universo:)

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    1. :)) para ti também, que para isso há universos que cheguem para a troca ;)

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  2. Não sejas tão descrente de Ti.
    Os socalcos do Douro têm um dom especial, não sentiste?!
    Considera-te embrulhada neste meu abraço

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    1. Sabes, às vezes dou comigo a pensar que os fiapos de tristeza e desilusão que ainda me vão aparecendo entre os dedos dos dias devem-se precisamente a eu ainda não ser completamente descrente. Por ainda achar genuinamente belos certos abraços e certo calor que se pressente nalguns olhares de alguns pares. Por aí da acreditar na verdadeira beleza, no fundo. Se não acreditasse não teria razão para tristezas e desilusões...
      quanto ao douro é lindo... sim e respira-nos de verde e frescura :))
      Sente-te abraçada de volta :)

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