Ontem houve festa. Coisas do Oriente, olhos em bico e afins. Arranjei vestimenta de acordo, e fui com vontade, dancei, ri-me, voltei cedo. Ouvi que seria muito mais feliz se fosse menos inteligente, que sou um desperdício e não me sei aproveitar da vida e do que ela me deu, por um lado, e por outro que tenho uma cara que alguém gosta muito de olhar. Achei piada, não aprofundei... Fugi como sempre faço, não sou boa com elogios. Observei espécimes de relance que me levantaram questões, e responderam a outras. Realmente, apesar de metade da cidade ter sabido de determinada história e o facto de, curiosamente, pouca gente ter acreditado responde-se olhando para a criatura - para as duas criaturas, na verdade, mas ontem só estava lá uma -ninguém acreditou que ele fosse "comer aquilo", ainda por cima "tinha melhor em casa" (ouvi-o várias vezes, e de mais do que uma boca) que só podia ser invenção, boato, má-língua. É engraçado este fenómeno - fiquei a pensar nisso - porque, acaso achassem que afinal o que tinha em casa era pior, todos acreditariam à primeira, nem precisavam das ditas provas, aliás, até acrescentavam várias histórias à história, enfim, o costume... Concluo que as aparências realmente podem ser um bom alibi (o que também explica muita coisa...). Neste caso, maior parte das pessoas que soube ilibaram-no por estas razões, os que sabiam efectivamente a verdade, espantaram-se de tal modo que nem queriam acreditar. Pareciam sedentos de algo que os deixasse acreditar no contrário, qualquer coisa que fosse, o que não aconteceu: era verdade, verdadinha. E não foram os supostos altos padrões morais apregoados por certas criaturas envolvidas que levaram a que não acreditassem, não, isso nem foi tido em conta (talvez nesses ninguém acredite mesmo, lhes pareçam tão falsos como o resto, não sei) foi mesmo a incredulidade de ceder a tal criatura, só podia estar em desespero... Parece que ele se revelou um moço que não sabe dizer que não a borlas, sejam elas quais forem - se lhe aparecem à frente, sem dar trabalho, ele aproveita. Há gente assim. Dessa ideia ele não saiu ilibado, mas condenado, sendo culpado ou não. Talvez também sirva de publicidade, agora qualquer uma acha que tem hipótese... e parece que tem mesmo... mas ainda me ri para dentro a pensar nisto tudo, e lá andava uma avezinha à volta da criatura, não sei quem era, nem se tem história por trás, nem quero saber, só concluo que o moço tem sucesso. Parece o outro: só precisa de se encostar ao balcão que elas aparecem e caem que nem tordos... o que ainda me fez rir mais, na verdade. A vida tem as suas ironias, ao menos que nos dêem para rir... No meio disto tudo e de copos sempre atestados o cansaço, mesmo depois de dormir tão bem na noite anterior apareceu para me levar, e eu fui. A cama soube-me a mil e uma noites, soube-me bem.