quarta-feira, 22 de maio de 2019

[foto @nicoladavidson]

Uma mesa atravessa as discussões, é percorrida por argumentos que nem poisam os pés na travessia. Do outro lado, uma mulher feia, mas que podia ter algum encanto, como em tudo para mim, não é o cabelo palha-de-aço que a desfeia, nem o ar meio sem gosto que apresenta e que poderia passar quase despercebido, é todo um estar que não sabe ser, e não fosse a aparência de falta da vacina anti-raiva, ou um ou dois xanax matinais, poderia ter alguma graça, um sentido de humor inteligente, um discurso acutilante, uma ironia fina que sabe dizer o que quer, e como todos os feios poderia ser extremamente interessante ainda, mas não, nada disso.
Por cima da mesa olham-me como se me soubessem sem nada saber de mim, vêem-me como se tivesse tudo e não me conhecem o tempo rasgado por baixo da pele, a luz que me roubaram dos olhos os anos que me esqueci que passaram, nem as feridas que não se vêem, os golpes e remendos que trago camuflados em palavras assertivas e aparentemente nada incertas. Trago-me guardada por baixo de camadas de mim mesma que poucos conhecem. Ou vêem.
Olham para mim e pensam que tenho tudo.
Dá-me uma tremenda vontade de rir, mas não os desminto, excepto numa coisa que não tenho: pachorra para gente pequenina mas prepotente; estúpida mas com poder. 
É uma combinação que não me combina. Nem dantes, nem agora, desenganem-se. Eu não mudei.

2 comentários:

  1. Querida Vi,enfrentando as feras
    :)
    Gostei da cena, de como contas:)
    Sabes que nem tens de mudar nada em ti.É assim mesmo: sê tu própria, autêntica, e o que tiver de ser, será!

    nanda


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    1. as feras... :))) pois talvez.
      Eu não sei se tenho de mudar alguma coisa em mim, acredito que sim, as que não me fazem parte da essência, alguns comportamentos, algumas perspectivas talvez, mas sei que algumas coisas não tenho, nem quero, mudar... mas uma coisa é certa, o que não tem de ser, nunca será!

      beijo para ti Nanda :))

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