quarta-feira, 26 de outubro de 2016



Primeiro foram as mãos que me disseram
que ali havia gente de verdade
depois fugi-te pelo corpo acima
medi-te na boca a intensidade
senti que ali dentro havia um tigre
naquele repouso havia movimento
olhei-te e no sol havia pedras
parámos ambos como se parasse o tempo
parámos ambos como se parasse o tempo

é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas

atrevi-me a mergulhar nos teus cabelos
respirando o espanto que me deras
ali havia força havia fogo
havia a memória que aprenderas
senti no corpo todo um arrepio
senti nas veias um fogo esquecido

percebemos num minuto a vida toda
sem nada te dizer ficaste ali comigo
sem nada te dizer ficaste ali comigo

é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
(...)

Pedro Barroso

Há coisas que leio que me deixam tão pouco por dizer, que roubam as palavras por devolverem o sentido dos sentidos, do sentido querer. Do querer tão sentido. Do desejo que se bebe na pele, duma sede que nasce por baixo da pele. Nasce e morde-te, acorda-te, emaranha-te numa revolução sem mote. As mãos agitam-se de vida errante, mas de verdade, quando, das verdades certas perderam o sentido do Norte que se esquece de sentir. Mãos que se querem boca e pele e sol. E beijo, um só, que se faz sede e dá de beber. Sobram palavras quando os olhares gritam, soçobram os sentidos quando a pele sente por dentro o que toca por fora, desperdiça-se silêncio quando nele não cabe um beijo dado de corpo inteiro, entregue numa palavra que não precisa ser dita. 
"É tão dificil encontrar pessoas assim bonitas", mas se encontramos é inevitável que o tempo perca o seu papel, que um minuto possa ser uma eternidade inteira, que um beijo tenha corpo e asas e sonhos. Que se poise esse beijo nuns lábios como se a vida fosse um breve instante à espera de voar.

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