domingo, 7 de agosto de 2022

@ryanandray 

Cheira-me que este fim de semana vai ser de não pôr o nariz fora de casa. Ontem só atravessei a rua para ir pôr o lixo, hoje nem isso preciso. Uma das coisas que a pandemia mudou em mim foi a necessidade de sair para tomar café ao fim de semana. Era um ritual meu, não importava se fosse às duas da tarde ou às cinco, mas saía de casa para ir a uma esplanada, ou a algum lado, beber um café, ver gente, levar um livro e ler, observar a fauna circundante, trocar sorrisos com desconhecidos, obrigar-me a sair e ver gente. Desde que me separei que assim era. Ao início, com a miúda no carrinho, que passava depois para o colo onde adormecia melhor, aconchegada a cheiro a café. E eu ficava ali, às vezes a ler, outras só a senti-la dormir. Agora já não me cabe no colo, e quando está comigo e se vamos, ela também toma café. Mas vamos menos. Hoje ela não está e não me apetece mexer, sair porta fora, ver gente, nada. Devia ir passear a tracção às quatro e nem isso me puxa, coitada da bicha. Não me apetece. Há fases assim. Outras há em que me esforço por contrariar isto, esta preguiça ou falta de vontade ou o que for, mas esforçar-me para quê? Já não ha esforço suficiente no trabalho a aturar gente doida que não me grama? com a família que temos de lidar e às vezes parece que o verbo é só aturar; nas relações, de todos os tipos, que queremos que dêem certo? E para quê? Continuam a não nos gramar, a família continuará a ser a mesma e as relações independente do esforço mais das vezes não dão nada. Só magoam. Olhamos as mãos vazias e enfiamo-las nos bolsos. Só pensamos... não me chateiem. E deixamo-nos estar da única maneira que não nos sentimos sós: ficando sozinhos, em casa com as nossas coisas, com os cães à volta, que nos ouvem e percebem até o que não dizemos. Tão mais que muita gente, que nem o que dizemos ouve, quanto mais entender... 

Cada vez mais comprovo a teoria que me acompanha desde que me conheço, de que na vida, depois de assegurar a nossa sobrevivência e a dos nossos (sobrevivência, não caprichos, vontades, exigências e afins), só devemos fazer o que nos apetece... uma vida de sacrifícios é uma vida que não nos pertence, não é nossa nem para nós. Geralmente os outros também não reconhecem o sacrifício, pelo que não o valorizam ou retribuem de alguma forma. O melhor é fazer o que nos apetece mesmo, e só o que nos apetece. E hoje acho que não me apetece sair de casa.

4 comentários:

  1. Percebo...desde que se foi, as vontades, já não apetecem...mesmo aquelas de descobrir mares nunca antes navegados já não estão aqui...e os dias passam sem que o ponteiro do relógio consiga mostrar que o tempo está a passar.

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    1. Sim, a vontade foi-se, são fases. Já as conheço, talvez por isso já não impactem da mesma maneira... vai-se ganhando calo e consciência que tudo, ou quase tudo, é temporário.
      Numa coisa concordo, há dias, vezes, períodos que se não fossem as máquinas a assegurar-me que o tempo passou, eu não o juraria.... Quer pela ausência de movimento (o movimento é a prova do tempo) quer pela repetição de episódios. Parece que o tempo só anda para a frente em círculos, não avança. Ou melhor, eu é que não avanço, aparentemente presa sempre nos mesmos padrões. Mas perceber é meio caminho andado para ter o caminho andado.

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  2. Ou seja, viver, tendo em conta o último parágrafo. :) Boa semana

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    1. Cada vez mais, Pink, cada vez mais :)
      Boa semana para ti.
      Beijo

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