sexta-feira, 5 de agosto de 2022


É tão fácil estar assim, perto. Difícil é percorrer a distância, o caminho às vezes tortuoso, descalços e perdidos e cheios de medo, até lá chegar... e lá onde? Há quem não saiba, que procure um destino e os checkpoints que confirmam a direcção certa, mas não, não é um sitio a que se chega, é uma cumplicidade que se bebe em e de alguém, é a intimidade que o olhar denuncia, é um sermos que não é tu seres ou eu ser. É sermos, sem fronteiras definidas nem necessidade de passaporte. Se calhar há quem nunca chegue, mas é tão fácil. às vezes estamos perto e não sabemos. Estamos à procura dum sitio, e como nos descreveram como seria, como lemos, como sonhámos. às vezes estamos perto e não sabemos. Outras nem nunca rondámos o quarteirão. Não percebemos nada de distâncias ou proximidades. Eu não percebo nada, de nada. Só queria que o perto não se tornasse um sonho que as desilusões impediram. Há anos que tento, que me esforço para que a amargura da mágoa não me amargue, mas a única coisa que consegui foi perder o paladar, o olfacto, e a crença em não sei o quê, perdi o sentido de ouvir os sentidos porque nada do que vivi e aprendi faz sentido, porque agora nada me sabe a nada, ou quase. Nada me sabe verdadeiramente bem, ou mal. É como comer esferovite todos os dias. Ou perto disso. Muito perto. Não mata ninguém, mas de viver não anda nem perto.

2 comentários:

  1. Por vezes, os medos, levam-nos a percorrer distâncias tão grandes, que nem nos deixam perceber o quão perto estivemos...

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    1. Bem verdade, isso. Às vezes a proximidade e a distância medem-se muito melhor pelo retrovisor, quando olhamos para trás. Mas não há como voltar atrás, só aprender para o futuro, e esperar que os medos e as desilusões não apaguem o futuro.

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