domingo, 14 de agosto de 2022



 Ontem as meninas foram às vacinas. Para fim‑de‑semana até me levantei cedo… entrei de férias às nove e dezanove de sexta-feira - mandei duas mensagens a dizer que tinha entrado de férias (Iupiii!!) naquele minuto por isso sei o momento ao minuto - vim para casa e saí ontem para levar as meninas às vacinas. Pensei voltar para casa, comer alguma coisa a fazer de almoço e ir a uma esplanada beber um café. Não fui. Não saí mais de casa. Fiz umas poucas coisas por casa, sentei-me no sofá a queimar neurónios com tretas e a comer tempo sem encher a barriga. Tenho andado assim. Há agora coisas em mim que não entendo, costumo conseguir chegar à raiz das coisas, e com isso deslindar-me. Mesmo que com isso perceba que tanto do que fiz foi estupidez, mas foi sempre estupidez pura. Nunca houve deste lado manipulação, estratégia ou mentiras. Agora deparo-me com reacções que não consigo perceber em mim. Até isto de não sair de casa, de não querer nada, de me deixar ao sabor do tempo que não voltará. Tive um café marcado ontem à noite, bem acompanhado por um jazz numa noite de verão. Meia hora antes disse que não ia, já não ia sair de casa. Não me apetecia, não me apetece. Sempre soube que tinha de contrariar certas inércias, muitas faltas de vontade, e de uma forma ou de outra, sempre fui conseguindo. Havia sempre isso, ao fim‑de‑semana um café numa esplanada com um livro por companhia, ou a observar a paisagem humana. Obrigava-me a sair, a arranjar-me, a apanhar ar e a ler mais. Outro hábito que me devolve, que me traz a mim, que me faz sorrir ou gargalhar sozinha. Agora não sei para onde foi isso tudo. Será que já não estou nesses rituais tão meus? Onde será que eu fui parar? Alguém me repesque e me devolva se faz favor!... Parece que pairo no tempo parado e nada me move, nada capta a atenção ou a vontade. E acima de tudo o que noto, e talvez seja essa a raiz por confirmar, não tenho qualquer noção de futuro presente. Nada. Uma completa ausência da ideia de futuro. Não é só não fazer planos, é não me recuperar não sei do quê para ter como os fazer. Dantes tinha formas de me contrariar a disposição e a inércia, e depois no futuro isto ou aquilo. Agora não há isto ou aquilo. Há agora, e agora não me apetece pevide… cumpro as obrigações, não me sinto mal, não estou triste nem contente, e custa-me a justificar-me que tenha de mudar isto… Porque é estranho, é muito estranho, efectivamente não estou triste nem contente, não me sinto nada mal, acho que nem sinto sequer!!... talvez seja apenas uma fase de transição de quem aceitou que não querer nada, não querer lutar por nada, não esperar nada, é a melhor forma de viver. Ou a mais cómoda, ou a mais segura e recomendável para a saúde duma criatura. E é isto tudo que não entendo em mim. Nunca fui assim. Sempre tive ganas debaixo das unhas para esgravatar, para lutar contra, para querer mudar o que acho que não está bem... Agora fico bem se me deixarem no meu canto, com os cães aos pés e tempo para a cabeça não pensar em nada… 

Realmente há qualquer coisa de terapêutico para mim no escrever… não era nada disto que tinha pensado dizer quando pus a foto das meninas a chegar das vacina (e sim eu sei que o carro está sujo mas está como está, por isso a foto é o que é, mas não atrapalhou o olhar delas…que é a piada toda da coisa). É que a minha pequenitates vem hoje e as saudades são muitas e as novidades e cusquices serão quase tantas, e amanhã vamos para o nosso Alentejo e era de lá que eu não devia sair. Coser o meu olhar àquele horizonte, o meu coração àquele silêncio tranquilo, e a alma, a alma àquele céu imenso meu deus…  E que hoje, hoje vou pegar num livro e nuns óculos de sol e juro que vou lá fora. Juro. Pelo menos até a varanda está confirmadissimo!!  :)))

6 comentários:

  1. primeiro, tens que arranjar óculos de sol para as meninas também, e já agora um livro e mojito :) tenho a certeza que vão ficar bem

    segundo, depois de ler veio-me à cabeça uma coisa do stendhal, Deseja tudo, espera pouco, não peças nada
    para mim a mais fácil é a ultima, conseguir as primeira ao mesmo tempo não é tão fácil
    e falhando que falhe a segunda, que o desejo é tudo

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    1. :))) estas meninas com óculos de sol, um livro e um mojito até eu ficava óptima :DDD (fartei-me de rir só de imaginar!!!)
      Quanto ao teu stendhal estou mais nas duas últimas, parece-me melhor negócio de expectativas, digamos ;) quanto à primeira lembrou-me algo do Camus que dizia qualquer coisa parecida com "a esperança é a raiz de toda a infelicidade"... será possivel desejar realmente sem nenhuma esperança? Mas percebo, uma vida sem desejos, sem sonhos é uma caminhada sem bussola, é um boiar ao saber da corrente. A única vantagem será mesmo a paisagem apreciada sem pressa...

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    2. o google é mesmo amigo
      https://thumbs.dreamstime.com/b/o-c%C3%A3o-tem-um-resto-na-praia-do-ver%C3%A3o-no-por-do-sol-69707709.jpg

      não é um mojito e é mais malhada, mas dá uma ideia :D

      o que é melhor, desejar (ou por mais irrealista que seja) ou não desejar?

      Deixar de desejar é deixar de viver. É não ter vontade de nada. Se a única razão para uma pessoa se levantar da cama é fazer o que somos obrigados, é uma treta

      mas sim o que dizes no final também é verdade, também sabe muito bem estar sem pressa, a olhar para a paisagem num fim de tarde. não tem que se estar sempre a desejar :D por vezes pode-se estar só

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    3. ahahhaha muito boa a foto!! mas as minhas são muito mais giras, nunca conseguiria tal pose a não ser que lhes desse uns drunfos valentes, não param quietas as gajas, só por isso, claro :DD mas adorei!
      E sabes? (do resto) não sei, desejar é meio caminho para a desilusão, não desejar é estar meio hibernado na mecânica dos dias - percebo isso, bem demais até e não gosto, o quotidiano obrigatório é uma sobrevivência lenta - mas acho que já tive muito tempo nesse registo e volto a estar, mas agora, agora sinto mais esse boiar de barriga para cima e olhos lançados no azul e deixar-me ir, inventar animais nas nuvens, ou histórias por contar, ou só respirar :) Hoje as cores de final de dia por cima da paisagem de vinha a perder de vista foi qualquer coisa... há pouco o céu espectacular que a noite trouxe, e a vontade de levantar o nariz e deixar-me ficar, esperar por estrelas a cair do céu num qualquer desejo meu (não fossem os barulhos estranhos, do que me pareceram javalis a comer e a estragar pela vinha... se não eram javalis era pior, mas a lanterna não chegava tão longe...) que nunca me cairá no regaço :)

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  2. "...manipulação, estratégia ou mentiras..." se nunca houve, não podemos achar estupidez no que fazemos pois se o fazemos é porque algo nos mostrou que o queriamos fazer e asaim não cairmos no erro de:
    "Não passam de traidoras as nossas dúvidas, que às vezes nos privam do que seria nosso se não tivéssemos o receio de tentar" W. Shakespeare
    Boa semana

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    1. Estupidez é o que percebemos em rectrospectiva, mas é estupidez da pura, da essencial, porque acreditámos em algo ou quisemos algo e depois percebemos que apesar de tudo, se tivéssemos parado para pensar um tico talvez tivesse sido diferente. Mas não costumo arrepender-me das minhas estupidezes (tenho bastantes para a troca para quem estiver interessado...), sei porque dei oportunidade de acontecerem, e queria muito acreditar que poderão continuar a acontecer. Quereria dizer que se manteria uma certa pureza, uma certa fé na humanidade e nas coisas boas. E sim, as dúvidas, ou como costumo dizer os "ses" são tramados, e o medo deles castrador, porque muitas vezes são o que nos impede de tentar. Eu não sofro desse mal, acho que combato os meus "ses", arrisco-me a ver o que está para além deles, se achar que vale a pena (obviamente), senão nem chegam a ser "ses", suponho. Agora dúvidas é o que tenho mais, cada vez tenho mais certeza que tenho muito poucas certezas... mas ainda há pouco tempo alguém me dizia ter certezas... e olha, de certeza que eram pouco certas e o tempo sentenciou-o... Mas percebo o que dizes :)
      Bom resto de semana

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