quinta-feira, 23 de julho de 2020


Quando a minha mãe ainda se lembrava que eu escrevinhava umas coisas, perguntava-me de vez em quando e em jeito de barómetro, se andava a escrever muito ou pouco. É certo que se andamos mais para dentro, mais connosco, procuramos o tempo resguardado do mundo para coser os pensamentos em palavras, para os aquietar, e para os desembrulhar até. Para nos ouvirmos. Os momentos alegres não deixam tempo para os pensar, são vividos na sede de os beber até ao tutano, urgência que não os deixa poisar no silêncio, não traz palavras como âncoras. E os pensamentos não são mais que gestos nascidos na leveza e no riso. No sorriso também, naquele que se prolonga no tempo, engolindo-o. Será que as palavras, aquelas realmente sentidas e que fazem sentir, são a companhia da melancolia, duma certa tristeza calada que se grita escrevendo? Por que é que escrever é quase uma tentativa de tornar os pensamentos mais leves que o tempo, de os largar no vento, de largarmos lastro para seguir viagem? E por que é que são as que me sabem melhor ler? Não me parece justo.

2 comentários:

  1. Mas, [o que] é justo?!
    Escrevinhar é uma excelente terapia e barata[risos]

    Bom fim de semana menina Olvido, cuidado com o sol :)

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    Respostas
    1. Tem sido uma boa terapia... faz parecer o falar sozinho muito mais saudável, pelo menos ;)))
      Bom fim de semana, menina Perséfone

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