quarta-feira, 29 de julho de 2020

[ foto @erichmcvey]

A boca, muda, repete “amo-te”, palavra tão estranha. Palavra imensa que o silêncio maior come. Palavra tão rara. Tão rara na minha boca, avara de palavras vãs. Talvez tenha sido a falta de hábito de metade da garrafa de Douro, talvez seja o percurso de carro sozinha, depois, debaixo dum céu que acolhe palavras assim. Talvez seja só a estupidez que não me larga. E repete-se. Amo-te. Assim, com o soro da verdade já esbatido nas veias e o amanhã fora de qualquer relógio... e a noite, a noite perfeita pendurada no céu. E eu que a queria pendurada num beijo, nesta boca que repete palavras que não diz. Que já leu em loucura, e que escreve, mas é muda porque nada muda. E nada está igual, só esta palavra muda se repete. Às vezes. Quando a verdade me apanha. A fugir, de raspão por meia garrafa e um céu que me parece perfeito, mas apanha. 

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