sábado, 25 de julho de 2020

[foto @ erichmcvey]
Escuta, Amor
(...)
Por isto e por mais do que isto, tu estás aí e eu, aqui, também estou aí. Existimos no mesmo sítio sem esforço. Aquilo que somos mistura-se. Os nossos corpos só podem ser vistos pelos nossos olhos. Os outros olham para os nossos corpos com a mesma falta de verdade com que os espelhos nos reflectem. Tu és aquilo que sei sobre a ternura. Tu és tudo aquilo que sei. Mesmo quando não estavas lá, mesmo quando eu não estava lá, aprendíamos o suficiente para o instante em que nos encontrámos.
(...)
Questiono os gestos mais simples, escrever este texto, tentar dizer aquilo que foge às palavras e que, no entanto, precisa delas para existir com a forma de palavras. Mas eu questiono, pergunto-me, será que são necessárias as palavras? Eu sei que entendes o que não sei dizer. Repito: eu sei que entendes o que não sei dizer. Essa certeza é feita de vento. Eu e tu somos esse vento. Não apenas um pedaço do vento dentro do vento, somos o vento todo.”

José Luís Peixoto

Acontece, como ontem à noite quando me cruzei com este texto, lermos coisas que são ecos de coisas que já soubemos, por estas ou outras palavras, sem palavras. Mas são ecos, coisas que retornam, que estavam esquecidas, ou que adormecemos à força da vontade. Ou simplesmente que estavam a fazer uma qualquer viagem, a dar-nos uma volta maior, até nos chegar, de novo, dentro. Talvez venham com o vento, ou sejam o vento que não sabemos donde vem para nos escancarar as janelas.

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