segunda-feira, 14 de março de 2016

[foto @nannoubis]

"Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças 
e enaltece as boas e que graças a esse artifício conseguimos suportar o passado."

Gabriel García Márquez, in O amor nos tempos do cólera

Adorei este livro, li-o em poucos dias, suponho que percebo um pouco desta coisa de se esperar pelo amor amando. E é verdade que o coração nos mente as verdades passadas, parece negar-se a guardar o que doeu para nos fazer doer mais as coisas boas que ficaram no passado, que morreram. É um eterno luto pela felicidade. Doeria menos se nos lembrássemos de toda a dor que ficou lá trás, e que agora nos poupamos no presente, por o tempo as ter levado, mas não, não nos lembramos do mal que perdemos, só do bem que não repetiremos. Não sei se isso é conseguir suportar o passado, parece-me que é apenas suportar o presente, minuto a minuto pesado em memórias que não fogem. 
Este ano o meu horóscopo dizia uma coisa muito engraçada: que seria o ano em que me ia despedir do passado, que finalmente ia deixar o passado no seu sitio, ia largá-lo, deixar de o arrastar comigo envenenando o presente, ou melhor, isto já acrescento eu, que acho que se calhar o passado me turva o presente e come o futuro. O horóscopo dizia apenas que seria o ano em que me libertaria do passado... E eu que me parece que o passado se me embrulha nos passos, ou são os pés que sempre me tropeçam no passado. Talvez sejam esses tropeções que sempre me fazem cair. Talvez sejam esses tropeções que ainda me lembrem o que fui, o que posso ser, mas que me deixam suspensa entre o passado e o futuro, sem ser nada em tempo nenhum. Parece que estou à espera que o passado me fuja para correr à procura do futuro. E eu que sei melhor que isso: as boas coisas não se procuram, e quanto mais fugimos, mais perseguidos somos pelo que queremos esquecer.

Sem comentários:

Enviar um comentário