segunda-feira, 21 de março de 2016


"A esperança é a última a morrer. Diz-se. Mas não é verdade. A esperança não morre por si mesma. A esperança é morta. Não é um assassínio espectacular, não sai nos jornais. É um processo lento e silencioso que faz esmorecer os corações, envelhecer os olhos dos meninos e nos ensina a perder crença no futuro."

Mia Couto

Há já muito tempo que sei que a esperança não é a ultima a morrer, que há coisas que duram mais, que morrem mais tarde. Como a dor, como a mágoa, como algum passado. A esperança não é a ultima a morrer, o corpo morre depois. E sim, a esperança é morta, nós não a deixamos simplesmente morrer, nem a conseguimos matar numa qualquer versão suicida, vamos apenas aceitando que a vão matando lentamente, dolorosamente. No processo vão-nos apagando o futuro, porque futuro é esperança, quando nos asfixiam a esperança esbatem o futuro, amargam-no, sem lhe encurtarem a agonia. Envelhecemos sem termos futuro - ou por nao termos futuro -, sem o tempo passar, sem chegar a viver, sem acreditarmos na vida. 
A esperança não é a ultima a morrer, mas é talvez a que demora mais tempo a morrer. 
(É também aparentada por linhas travessas de todos os gatos vadios, parece-me...)

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