Amanhã é terça, hoje começou uma nova semana, já não me pergunto o que me irá trazer uma nova semana, um novo dia, nada. Nada de novo no novo que se estreia todos os dias. As vezes acho que realmente há uma qualquer depressão latente em mim, não me larga por nada, hoje em dia nunca desaparece completamente, está sempre algures debaixo da pele a segredar-me tristezas, frustrações e medos. Será que algum dia me vou livrar dela? Vou voltar a ser o que fui? Já não sei responder a esta pergunta é já não sei qual gostaria que fosse a resposta, porque o que sou hoje é o acumular de camadas de emoções, vivências, dores, alegrias, medos e sonhos. Voltar a ser o que era era apagar tudo isto que me ficou, e que sou hoje, e isso parece-me um voltar atrás, um desaprender, um negar a realidade das coisas. É isso é coisa que não gosto, tenho relutância em fechar os olhos ao que é, seja o que for. Talvez seja daqui que me apontam lucidez na personalidade, mas também talvez seja por isso que pareço triste muitas vezes, como dizia o T. Vejo sempre tendencialmente negro. Mas o certo é que muito da minha vida até hoje tem sido sombria, nunca me faltou nada essencial, mas faltou-me quase sempre satisfazer a essência: a minha essência. Talvez quem me chamava alma grande tivesse alguma razão, não no tamanho da alma, mas no tamanho do essencial comparado com a vida que fui vivendo, como um sapato apertado, vários números abaixo do que a alma precisaria para respirar fundo, bem, alimentada. Ou então não, ou então é à alma que sempre foi doente, sombria, enferma. Não sei, sei que os momentos de alma cheia, plena de vida são cada vez mais ensombrados de medos, de inseguranças, de descrencas, sempre à espera da próxima facada, do próximo golpe. Mesmo que esperado. Como hoje.