sábado, 26 de março de 2022

 


[Alejandra Pizarnik, Antologia Poética]
Descobri a cadeira que vou comprar para a minha varanda... é espectacular!! Adoro!.. o balançar, o conforto, tudo. Sentei-me ali depois do ioga, hoje no deck aqui mesmo em frente, do outro lado do vidro, ao som dos passarinhos. Um concerto in locco, sem ser gravado para o efeito de acompanhamento zen :) Estava um bocadinho fresquinho lá fora, mas fui deixando de o sentir. O que senti mesmo é que estou muito empenada e tenho de deixar de ser preguiçosa, senão qualquer dia mal me mexo. Depois sentei-me cá dentro, ali naquele balançar que embala, e deixei-me ficar, a olhar a paisagem, a ouvir o espotifas, e acabei por ir buscar a Alejandra para companhia. Gosto muito de alguns dos poemas dela. Se eu escrevesse assim, não precisava de falar mais. Há frases dela que guardo sem esforço de memória "partiu de mim um barco levando-me" "tão longe pedir, tão perto saber que não há". E há coisas que sei que não há, duvido que alguma vez haja, ou até que tenha havido. Estou descrente, ou só lúcida - ainda mais lúcida. Viajo já com o copo vazio, provavelmente... Já não sei onde a descobri, a Alejandra, mas sei que foi por acaso, na net. Deparei-me com coisas assim, destas, que me leram por dentro de alto a baixo, e fui atrás de mais. Tristeza só ter encontrado em português esta pequena antologia dela. Curioso pensar que muitos dos poetas que mais me arrebataram suicidaram-se, viveram todos para além das fronteiras que o ser aguenta, e nem as palavras lhes serviram de válvula de escape... mas serve-me a mim muitas vezes a intensidade deles tão impressa por dentro dos sentidos das palavras, serve-me para sair de mim e encontrar-me. E aqui me vou lendo nos poemas que ela escreveu. Acho que a poesia serve para isso: para nos lermos. Talvez por isso ao longo da vida vamos lendo as mesmas coisas de forma diferente. Porque nós somos sempre os mesmos, mas o olhar, o nosso olhar sobre o mundo, vai mudando. As formas talvez sejam as mesmas, os contornos tornam-se menos definidos, mas as cores... ahhh as cores, as cores nós fabricamos por dentro, só nossas, e sim essas vão variando, tenho a certeza. Quem poderá dizer que o branco dos nossos quinze anos é o mesmo de agora? O nosso olhar, como a nossa compreensão e incompreensão das coisas, vai aprendendo, vai-se moldando, vai-se construindo e desconstruindo em cima dos pilares da nossa essência. A maneira como vemos as coisas vai mudando. Oxalá assim seja com muita coisa. Que tudo passe a ser sombra da sombra que pensávamos não ser. E cuidado, muito cuidado, com quem percebe que nada é o que é agora, que só a sede não tem dias, e que há coisas que não há... e pedir está sempre fora do alcance. Por orgulho, ou melhor, muito melhor, por lucidez.

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