terça-feira, 5 de maio de 2020


Um passeio a duas, há muito que não tínhamos, e tão bem que me estava a saber... resolvemos dar uma volta maior porque o jardim ao fundo da rua estava cheio de gente e o no outro a seguir só conseguimos uns cinco minutos para ela correr um bocado, até aparecerem mais canídeos... a modos que resolvi continuar, apetecia-me andar e a luz de fim de dia tem sempre um efeito qualquer meio mágico no tempo, que apetece estica-lo sempre mais um tico. Descemos à praça, subimos à Sé, descemos ao longo dos Arcos, e o panorama era este, a rua assim, só nossa. Pedi-lhe a sua melhor pose... e foi isto... acho que ainda não quer fotos... deve ser dos quilos a mais que ganhou da ninhada e ainda não recuperou a forma nem perdeu a fome... continuamos e já quase em casa, do lado da rua oposto ao nosso, vejo uma senhora, velhota, cair.  E foi quando enfim a estupidez me assentou, quando não a vi levantar, ou sem o conseguir fazer, já ia a meio de atravessar a rua. Vi que a cadela não ladrou, o que é raro quando as pessoas levam sacos - não sei, não me perguntem, deve ser um qualquer trauma que desconheço ou ouviu alguém contar a história do homem do saco quando era pequenina... vá-se lá saber - mas não ladrou, passei a trela para a outra mão e com a mão direita tento ajudar a senhora a levantar-se... o que me fez de repente lembrar que os badalados dois metros já eram, e só agora me lembrava disso, e que nenhuma de nós levava máscara e que a senhora com aquela idade, era um perigo. Afastei a cara o mais possível da senhora e lá consegui ajudá-la a levantar. Afastei-me, perguntei se estava bem e se conseguia ir bem para casa, se era longe, se precisava de mais alguma ajuda... disse que não, e tinha fome de conversa coitada da senhora, e eu só a pensar se lhe teria pegado alguma coisa, mesmo pensando que não tenho nada, nunca se sabe, ou só se sabe mais tarde... e o passeio que me estava a saber tão deixou esta sensação estranha, de poder ter feito mal a alguém sem querer. Foi uma estupidez, por um lado, mas ia deixar a senhora estatelada no chão, à beira do passeio? 

2 comentários:

  1. Tu não me digas que começaste a tossir para cima da senhora, atão nada lhe pegaste. Deste-lhe amparo num gesto que algumas pessoas têm vergonha de o fazerem.
    Quanto à tua menina de quatro patas, é uma cusca :)

    Sorri Olvido, com o coração :)

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    1. ... não não comecei a tossir e lembrei-me a tempo de não lhe pegar nas mãos, assim como de virar a cara para o outro lado quando a estava a levantar, agarrando-a por baixo do braço e tentando levantá-la. Ninguém pode saber se traz ou não o bicho, a não que tenha acabado de fazer o teste... mesmo que uma pessoa pense que não tem nada.... temos de ter sempre presente que não podemos arriscar pegar a ninguém o que não sabemos se temos, e eu só me lembrei em cima do acontecimento, digamos, foi instintivo atravessar logo para a ajudar. A vergonha aqui não é dar amparo, que esse ninguém tem vergonha de dar, vergonha é não o saber dar (e no caso não o dar sem arriscar a segurança de quem precisa dele)...

      Bom Domingo, Perséfone :)

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