domingo, 3 de maio de 2020

Noite limpa, rasgada por um trapo de névoa que sublinha a lua. O sossego da rua, um dia que se acaba e se resume enquanto, aqui sentada, meço luzes e sombras. Há coisas que se tornam límpidas na boca dos outros, como o céu de hoje, quando as ouvimos calçados de nós mesmos. Coisas simples, que sempre estariam ao alcance do nosso olhar, se não nos enevoassem maravilhas que por dentro dos olhos nos cegam. Oásis  em desertos que se atravessaram a seco, devagar e em delírio. Muitas vezes ouvi que depois de abertos os olhos, não seria possível voltar a viver de olhos fechados. Não é verdade, podemos voltar a fechá-los, mas nunca deixaremos de ver. Por muito que cerremos os olhos. Como uma maldição, vestida de benção. Resta-nos evitar morrer à sede, por tudo tomarmos por oásis. 

2 comentários:

  1. Muito bonito este bocadinho de prosa poética!
    ~CC~

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, CC :) a noite estava bonita, convida-nos a deambular pelo seu silêncio... e a de hoje não fica atrás, está-se tão bem cá fora.

      Eliminar