“Parecia uma coisa passageira. Que o amor acontece para a gente desacontecer. Mas depois se viu que era mais que uma lembrança teimosa. E fizeram durar correspondência, deixaram crescer juras e promessas. Até que, subitamente, Deolinda deixou de responder às cartas. Desde então, o médico avaliou desejos, pesou saudades. E percebeu que sofria pela medida incerta. Meteu a existência numa mala, tratou dos papéis e dinheiros e rumou para a terra da sua amada.”
Mia Couto, in Venenos de deus, remédios do diabo
... parece que a medida incerta é em certa medida a medida exacta, contrapeso das saudades, motor desejoso de (con)ceder ao desejo de matar saudades. A vida acontece a quem se arrisca desacontecer, assim é o amor - acontece ser muito mais que uma teimosia que teima em não desacontecer, tantas vezes sem acontecer... ahhh mas quando acontece...não tem medida.
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