terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Com os anos, ou com a idade - que nem sempre coincidem -, vai-se apreciando cada vez mais a noite por dentro, em vez de por fora. E não é que passem mais lentamente, não, mas ficam mais tempo. Também  por dentro, onde se fazem, no fundo.
Acabo a noite s fumar um cigarro de janela aberta no escritório que era duma pessoa que há muito não mora cá, há anos que só o escritório ainda aqui habita. Não sei porquê. Penso há algum tempo fazê-lo uma espécie de pequena biblioteca com uma chaise-longue em frente à janela, um candeeiro de pé catita, umas colunas de som discretas e uma pequenina mesinha, sem mais. O resto que seja chão. Mas ainda não o fiz, e por isso o escritório, desabitado, e que já não é escritório, ainda não é outra coisa. Às vezes é preciso que algo tome o lugar daquilo que deixou de existir, para que algo volte a existir. E não seja um lugar mas um sítio com alma, outra vez.
Hoje, e pela primeira vez desde que vim viver para aqui, fumo um cigarro, o último do dia, a esta janela... talvez a alma comece a seduzir o espaço, ou a ser seduzida. Algo mudou. Até a noite. Ou eu. E no entanto nunca fui diferente.

2 comentários:

  1. "Às vezes é preciso que algo tome o lugar daquilo que deixou de existir, para que algo volte a existir. E não seja um lugar mas um sítio com alma, outra vez."

    Pois é Vi;)

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