segunda-feira, 5 de setembro de 2016



"Em silêncio, olho em volta. Cercado pelo sossego da pequena igreja me apetecia, naquele momento, deixar de ser filho, neto, sobrinho. Deixar de ser gente. Suspender o coração como quem pendura um casaco velho."

Mia Couto, in um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

Era o que me apetecia também, entrar numa igreja, que ha tantos anos não entro sozinha, só para me ouvir pensar e tentar acreditar no que acredita quem lá vai rezar. Para ficar assim, só filha de Deus, sem me sentir neta, sobrinha, irmã, filha e mãe. Sem sentir raízes que prendem ainda que sejam o que nos alimenta e nos forma o corpo para enfrentar o tempo. Deixar-me só ficar, sem ser o abraço das lágrimas daquela que me pôs no mundo, sem ser os minutos ligeiros de quem traz o cansaço no sangue, sem ser a sombra que acompanha quem comanda o barco contra a tempestade para esconder lágrimas que não controla, sem ser ninguém. Pendurar o coração num prego que alguém pregou à força dum martelo cruel na nossa vida. Talvez deus.

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