sábado, 10 de setembro de 2016


Os fins de dia sentem falta de alguma coisa e algumas noites são vazias até de pensamentos. Não de todos, dos que acalentam a alma, e tudo parece deserto. Os minutos como grãos de areia. E o horizonte é ao fundo de um lençol imenso de areia - um mar com ondas petrificadas. E foge, a cada passo que damos ele recua um passo, e a vontade de caminhar a areia vai morrendo lentamente. A vontade, cada vez mais magra, deixa de ter fome e o sol aumenta a sede que morre no sangue que não parece correr. Havia alturas em que o deserto era caminhado com gosto de sal na pele e de mar na boca, o sangue tinha sede de sol e não se cansava de correr para o coração. As noites floriam das recordações que se viam por trás dos olhos fechados e nos acalentavam a solidão pela doce ilusão de verdade bebida no calor dos momentos.
Hoje o coração é este deserto de que vos falo, não sei se é ele que me habita ou eu o habito a ele, tão desabitado, tão árido. Um dia destes acordo toda feita de areia, petrificada por uma qualquer onda que se esqueceu de chegar à costa.
Há noites tão vazias que o vazio vai a meças com o horizonte. E o desiludido cansaço é tanto que o corpo não sente, a alma não sonha e a vida se esquece de acontecer.

2 comentários:

  1. Lá na linha do horizonte...por detrás do deserto imenso... gosto de pensar que existe uma praia extensa,linda,e ondas : o mar!!!! e rendas de espuma... Se te concentrares um pouco...(fecha os olhos) dá para ouvir o bater das ondas... eu acho que consigo ver lá bem longe o vulto de um navio... :)
    Para nunca acordar petrificada, é remédio santo abraçar alguém e não olhar para trás!!!
    Beijinhos, querida Vi,
    Nanda

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  2. É isso que me falta, abraçar alguém que me abrace sem olhar para trás... :)
    Beijinhos Nanda

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