segunda-feira, 12 de setembro de 2016



"O amor a castigara, a vida não lhe oferecera presentes. 
O amor nos pune de modo tão brando que acreditamos estar a ser acariciados."
"Doença tem começo? Ou sendo como o amor: 
essas coisas que só existem depois de serem lembradas?"
Mia Couto, in um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

O amor é tanto pior para nós quanto melhor foi. Quanto mais nos sentimos bem e acariciados pela sorte de amar de certa maneira que sentimos certa, mais sofremos depois o castigo desse amor já não poder ser amado. Ou nunca o ter sido como pensávamos. E sim, só se sabe que já nos habita quando algum sintoma nos surpreende com a certeza de que já fomos infectados. O nascimento é anterior à consciência da sua existência - quando já é tarde demais, quando já nada se pode fazer, ou travar, ou tratar. Desconfio que alguns tipos nem têm cura, nem do tempo, que dizem ser curandeiro de mão cheia, infalível. Mas ainda estou para comprovar...
Doenças incuráveis lembra-me o espanto que disfarcei hoje, por as cores na pele se terem desvanecido, diluído, perdido. É a doença a comer a saúde, o sangue novo. Amanhã faz uma semana que levou sangue novo, duas doses, e está a perde-las a uma velocidade acelerada. O medo instala-se por trás do que se mostra, mas cresce. Não estou preparada para perdê-lo. Não estou. Tenho medo e não tenho nada com que lutar, as minhas mãos estão vazias e a guerra não a posso fazer minha para enfrentá-la eu. Nada está nas minhas mãos. Há coisas demais, importantes demais, que não estão nas minhas mãos, ao alcance das minhas acções ou decisões. Nem agora nem dantes... Pareço uma espectadora, a ver na tela passar a minha própria vida, escrita por alguém com requintes de malvadez e um sentido de ironia bem aprumado.

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