"Acordar não é de dentro.
Acordar é ter saída." - João Cabral de Melo Neto
[livro: um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, de Mia Couto]
Há certo tipo de provocações, conscientes ou não, que são sempre quentes. E eu gosto dessas. Não gosto das provocações para sentimentos frios, para esfriar o outro, rebaixar o outro, humilhar o outro. E estou farta dessas. Gosto das provocações quentes, mesmo longe, que aquecem, que acendem, que provocam o que de bom se pode ter só de pensar em alguém. Físico ou não, de pele ou de alma. 'Provoquente' é uma palavra inteira, completa de significado, para mim. Só que não existe. Como a palavra "amorar", tão bem inventada, tão nada sentida. Como tanta coisa, como abortos que nunca nasceram, nem sabem morrer. Que não encontram reverso.
Cheguei ao terceiro capítulo, de que me agrada o título, e fico parada em frente a estas duas linhas - que em vez de me acordarem me fazem sonhar significados que nunca pensei - "Acordar é ter saída", "não é de dentro". Talvez seja verdade, talvez acordar não seja uma coisa de dentro, talvez seja uma coisa provocada, filha dum gatilho qualquer.. Talvez uma saída. Talvez. Mas há o acordar por ser acordado e há o acordar sem chamamento de fora, o abrir os olhos porque o sono se esvaiu.
Mas numa coisa parece haver razão. Quando vemos saída, de repente vemos tudo de forma diferente... Como se acordássemos dum sono dormente, indolente, e quase doente às vezes.
Mas, antes de chegar ao fim do segundo capítulo, tropecei nestas:
A morte é outro nascimento - talvez, mas nem sempre -, como a cada não corresponde um sim - mas sempre e em todas as vezes neste caso. É como o seu reverso, já a morte nem sempre tem reverso correspondente. A uma morte não corresponde sempre uma vida ou um (re)nascimento. Infelizmente.
" em África os mortos não morrem nunca. Excepto os que morrem mal. A esses chamamos de 'abortos'. Sim, o mesmo nome que se dá aos desnascidos. Afinal, a morte é outro nascimento."
A morte é outro nascimento - talvez, mas nem sempre -, como a cada não corresponde um sim - mas sempre e em todas as vezes neste caso. É como o seu reverso, já a morte nem sempre tem reverso correspondente. A uma morte não corresponde sempre uma vida ou um (re)nascimento. Infelizmente.
...Depois uma palavra inteira, completa, que não existe e ainda assim me faz sorrir. Há palavras que nos fazem sentir o que dizem, mesmo que não existam. Sensação tão familiar para mim... Palavras que fazem sentir e sorrir, mesmo que em verdade não existam, nunca tenham existido, no que descrevem ou falam...
"Vamos rompendo entre a enchente, espremidos um contra o outro como duas pahamas, essas árvores que se estrangulam, num abraço de raízes e troncos. De encontro ao peito, sinto os seus seios provocantes. Provoquentes, diria meu avô Mariano."
Há certo tipo de provocações, conscientes ou não, que são sempre quentes. E eu gosto dessas. Não gosto das provocações para sentimentos frios, para esfriar o outro, rebaixar o outro, humilhar o outro. E estou farta dessas. Gosto das provocações quentes, mesmo longe, que aquecem, que acendem, que provocam o que de bom se pode ter só de pensar em alguém. Físico ou não, de pele ou de alma. 'Provoquente' é uma palavra inteira, completa de significado, para mim. Só que não existe. Como a palavra "amorar", tão bem inventada, tão nada sentida. Como tanta coisa, como abortos que nunca nasceram, nem sabem morrer. Que não encontram reverso.
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