quinta-feira, 25 de maio de 2023

 Se eu soubesse explicar não estava aqui, assim, com as palavras a entermelarem-me os pensamentos, com as teclas debaixo dos dedos sem saberem como dizer o que dizem, com a cabeça a afogar-se, a afogar-me. Neste ponto onde nada faz sentido, e onde se sente o sentido de tudo, como uma clareza que não se toca, mas se desembrulha de forma estranhamente límpida algures no nosso ser. Como um destino que se adivinha no emaranhado de possibilidades de futuro... porque vão todas brutalmente acabar ali, naquele nó. Onde tudo se repete, onde tudo se repetirá, onde eu serei outra que já sou sem saber. Direi um dia o que oiço? Serei um dia o que vejo? E sinto a resposta como se a soubesse, mesmo que não a saiba. E a cabeça a afogar-se na impossibilidade abstracta de outras possibilidades, que não se sentem possíveis, e os soluços já não travam a velocidade de tudo que me passa pela cabeça, tudo que quero evitar sem poder. E sempre este ponto, isto, de não chegar, de não ser suficiente, de não saber ser mais ou somente ser capaz de ser eu, sem ser. Sendo outra que não pense assim, seja assim, sinta assim, faça assim, que não se afogue assim, neste ponto. Alguém que não se tenha deixado quebrar, magoar, cair e diluir. Alguém que ao fim de um dia bom  não o perca afogado no meio de frases que ainda não dissemos, mas que ouvimos de outras bocas que um dia será a nossa. E isso mata-nos enquanto dá vontade de morrer antes disso.  E afogamo-nos no meio de tudo isto. E não pedimos ar, só que acabe depressa. 

E escrevemos, na tentativa dum ponto final.

4 comentários:

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    1. Eu continuo a respirar, Legionário … nem sempre com calma :)
      Bom Domingo ;)

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  2. no fim do entarelimento vem a claridade, é inevitável

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    1. Mas será que ilumina uma realidade que gostaremos de ver? ou dá-nos a certeza do que não queríamos? às vezes parece que essa inevitabilidade é uma fatalidade...

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