Nessa complexidade simples de não haver como tocá-la sem dançar, nem dançá-la sem a tocar.
segunda-feira, 29 de maio de 2023
quinta-feira, 25 de maio de 2023
Se eu soubesse explicar não estava aqui, assim, com as palavras a entermelarem-me os pensamentos, com as teclas debaixo dos dedos sem saberem como dizer o que dizem, com a cabeça a afogar-se, a afogar-me. Neste ponto onde nada faz sentido, e onde se sente o sentido de tudo, como uma clareza que não se toca, mas se desembrulha de forma estranhamente límpida algures no nosso ser. Como um destino que se adivinha no emaranhado de possibilidades de futuro... porque vão todas brutalmente acabar ali, naquele nó. Onde tudo se repete, onde tudo se repetirá, onde eu serei outra que já sou sem saber. Direi um dia o que oiço? Serei um dia o que vejo? E sinto a resposta como se a soubesse, mesmo que não a saiba. E a cabeça a afogar-se na impossibilidade abstracta de outras possibilidades, que não se sentem possíveis, e os soluços já não travam a velocidade de tudo que me passa pela cabeça, tudo que quero evitar sem poder. E sempre este ponto, isto, de não chegar, de não ser suficiente, de não saber ser mais ou somente ser capaz de ser eu, sem ser. Sendo outra que não pense assim, seja assim, sinta assim, faça assim, que não se afogue assim, neste ponto. Alguém que não se tenha deixado quebrar, magoar, cair e diluir. Alguém que ao fim de um dia bom não o perca afogado no meio de frases que ainda não dissemos, mas que ouvimos de outras bocas que um dia será a nossa. E isso mata-nos enquanto dá vontade de morrer antes disso. E afogamo-nos no meio de tudo isto. E não pedimos ar, só que acabe depressa.
E escrevemos, na tentativa dum ponto final.
segunda-feira, 22 de maio de 2023
Dar nome de árvore aos beijos, para que dêem flor e fruto.
(das frases com que se acordou um dia qualquer. Daquelas que não nos largam, que se colam a nós a cada respiração... a cada sorriso também, se a frase for destas :) ... depois escrevinhamo-la algures, se tivermos juízo e pachorra, para nos largar e para mais tarde podermos voltar a ela, para lhe darmos vida quando a conseguirmos casar com uma fotografia. E um dia percebemos que a fotografia está ao alcance do abrir duma janela de todos os dias. )
Que nome dás à tua?
Bom dia!
domingo, 21 de maio de 2023
quinta-feira, 18 de maio de 2023
Dias que enchem a alma e nos libertam a cabeça, com terra calcorreada debaixo dos pés e sol alto no olhar. Passeios e caminhos, estradas que acariciam as curvas da terra e fazem a alma dançar ao som das músicas que se vão sucedendo em sorrisos que não sabem cantar. Locais de silêncio e águas que vão correndo calmamente para onde têm de ir, numa frescura descomprometida e livre, que fazemos por beber. Pausas que fazem o tempo ter um sentido que não precisa de razão, como se a vida só se vivesse nesta suspensão do quotidiano, nos intervalos dos dias.
Eu conseguia habituar-me a esta vida de dondoca sem esforço, a sério… anda-me a saber como a água fresca aos sedentos. Sede de vida também se sente, parece-me.
terça-feira, 9 de maio de 2023
O meu pai ontem não fez oitenta anos, hoje a minha filha faz dezassete. Bem sei que é lugar comum dizer que não se sabe como crescem tanto e tão rápido, como o tempo passa sem se dar por ele. Mas dá-se por ele exactamente neles, nos filhos. São o nosso melhor espelho, para nos dizer do tempo, e do que temos de bom e de mau, porque o vemos neles melhor que em nós. A minha pequenita tem muito de mim, já tem é pouco de pequenita, e é também por isso que chocamos tanto e achamos normal... porque discutir é normal e os feitios não são para nos calarmos. Depois é teimosa que nem uma mula, e touro, como o meu pai. E eu tenho a mania que tenho sempre razão, já ela acha que sabe tudo. A modos que os dias não costumam ser monótonos cá em casa :))) safa-nos (às vezes) termos as duas sentido de humor e vontade de rir. Depois temos conversas sérias pelo meio, onde argumentamos e pensamos juntas, trazemos novos olhares sobre paisagens antigas, ou novas. Tem sido um caminho muito partilhado e uma viagem muito bem temperada (às vezes demais). E hoje, hoje acordei com a ideia de que nestes dias as mães deviam ter a prerrogativa de escolher a idade que os filhos deveriam ter, só hoje, só neste dia. E hoje a minha filha teria meses, e caberia perfeitamente em modo sapito em cima da barriga do meu pai, ela de braços e pernas encolhidas, de dedo na boca e toda aninhada na ternura dele. Hoje dava tanto por chegar a casa e vê-los aos dois naqueles preparos. Ela só de fralda em cima da barriga dele, deliciados os dois naquela doçura lá deles. Tantas fotos se tiram, de tudo e mais uma botas, e aquela não tirei, mas guardo-a na memória dos meus melhores sorrisos. Que a doçura nunca te falte, e que o teu avô te continue a dar todos os beijos pequeninos, que eram só dele, através de mim, para que te lembres da ternura dele e donde herdaste a tua.