Perguntam-me às vezes se ando a dormir bem. Não sei bem, não sei responder exactamente. Sei que durmo, que fecho os olhos, que me esqueço se é dia ou noite, isso sei. Às vezes sonho, isso também sei. Sonhei com o meu pai há dias. Sei que o abracei muito nesse sonho que agora não recordo todo, mas isso lembro perfeitamente. Sei que nunca sei bem o que responder, porque durmo, mas dormir bem será outra coisa, parece-me. Dei por mim a responder ontem ou anteontem - já não sei... os dias enovelam-se num tempo que se embrulha sem se desenrolar, e a minha cabeça já não destrinça nada - "acho que sim, não sei... há dias em que parece que acordo no dia anterior. Mas afinal já é outro dia.". Como se só tivesse fechado os olhos por instantes. E é isto, esta sensação estranha de todos os dias serem o mesmo, mas outro. Cada dia não tem dia anterior, nem seguinte. É o mesmo. As mesmas perguntas de segundo a segundo, o arrumar vezes sem conta o que desarrumam sem saberem porquê, ou sabendo não quererem saber porque não pode ser, dar os comprimidos, ao fim do dia o jantar, tentar trabalhar um trabalho com um esperado e desejado fim à vista, mas que nunca mais se vê, fazer companhia que é só presença, porque companhia é conversa e troca de ideias, de vidas, de acontecimentos e sonhos, e aqui nada disso existe. Existe sempre o mesmo dia e esse pesadelo. E, ainda assim, cada dia tem muito de roleta russa, as perguntas são as mesmas, mas e a agressividade, será a mesma?, chegará a ser mais violento do que o psicológico desastre que já é? Estar ao pé de alguém que já não traz dentro a pessoa que era nossa, com quem ríamos, e falávamos, e trocávamos ideias, brincadeiras, conversas, medos e sonhos. E cada dia é um dia novo e o mesmo dia. Não há memória do dia anterior, nenhuma das milhentas perguntas respondidas ontem existiram, serão respondidas hoje, explicadas de novo. Segundo a segundo. Os olhos assustados e frágeis, ou carregados de ódio são repetições de fracções de dia. Do mesmo dia sempre. Todos os dias.
Há dias em que acordo no dia anterior. Acho que são todos.
Quando olhas, sao horas de levantar...
ResponderEliminarQuando olhas, já é outra vez natal...
Quando olhas, já passou...
Quando olhas, se calhar já não há tempo...
Olha enquanto há tempo...o mau nao durará sempre.
Ainda tens tempo mesmo que te pareça que não.
BFS Olvido
tempo... um tema que me é recorrente. O que é isso do tempo. Que não pára mas não passa. ter tempo. A mais e a menos. O tempo talvez seja mal medido, se é que se mede realmente. Talvez devesse ser medido pela vida que nele cabe. Um momento pode demorar uma vida e durar outra. OU pode passar tanto tempo sem haver um momento. Dos que ficam, dos que valem. O problema não é olhar, é ver. É abrir os olhos e ver algo porque valha a pena manter os olhos abertos. O problema é abrir os olhos e não ver nada que mereça ser visto, nem tempo nenhum que te ofereça um momento de vida. Como aqueles instantes eternos. Tempo... o que é o tempo? Há muito me pergunto.
EliminarBoa quinta... já não falta muito para o fim de semana :))