terça-feira, 25 de abril de 2023


 Não se nota, não se nota muito, eu sei. Mas hoje voltei a pintar as unhas desde há mais de dois meses. Mas não as consegui pintar de outra cor que não esta. Não me peçam para explicar, para explicar-me. São coisas que são assim como poderiam ser de outra maneira, porque não há razão. Há um sentir que é assim, que tem de ser assim, só porque sim. Ou porque não, que é das melhores razões para tudo que não é racional. Senão a melhor de todas. Porque gostas de mim? Porque sim. Não sei porquê, não sei explicar, não tem explicação, é assim e pronto. Tudo o que tem uma razão pode perdê-la por argumentação, por demonstração. O que não tem razão não pode ser provado errado, nem certo. É o que é, enquanto for. Essa incerteza, esse medo, não é para todos, não. Não há uma tábua a que nos agarrarmos enquanto tentamos nadar para a nossa costa. Não há nada. Só a vontade de chegar e de acreditar que estamos certos, que conseguimos. A razão é a melhor rede com que viver, mas há coisas que sem deixar a razão, sem tirar a rede, não se vivem. Não acontecem, não nos acontecem. Há anos neste dia, alguém me mandava uma mensagem enquanto vagueava pelas ruas enevoadas da cidade (o dia estava o contrário de hoje, cinzento, triste, fechado, nublado) “hoje é dia para uma revolução”. Não foi, nunca foi dia. Ou noite, e houve tantas madrugada dentro. O dia seguinte a uma revolução é dia de sermos adultos, de fazermos e assumirmos escolhas, de aguentarmos as consequências. Tudo o que, enquanto povo e nação, não estamos a fazer. Parecemos crianças a apontar dedos e a culpar o vizinho, o outro, o contexto, o tempo. Há pessoas assim, como há povos assim. Há pessoas que não sabem assumir revoluções, não sabem levantar a cabeça e esticar a espinha às consequências, até às mudanças que já aconteceram, já se instalaram, mesmo sem autorização. Preferem varrer para debaixo do tapete, fazer de conta que nada mudou, assobiar para o lado e rezar aos céus que tudo corra bem, e nada tenha mudado. Eu tive algumas pequenas revoluções para lidar, todos temos: decidir casar, ter filhos, decidir separar quando já não se está verdadeiramente junto. Depois há as que nos acontecem, que não são provocadas por nós, mas que temos de lidar, assumir, tratar e resolver, viver com elas.  As perdas, os cortes, as escolhas alheias, ou só a vida que se impõe sem que tenhamos uma palavra a dizer. Para a semana, se tudo correr como esperado, a minha vida estará diferente, e é uma pequena revolução, sim talvez, mas é minha, foi escolha minha. A partir daqui não sei, veremos, mas temos de assumir. As escolhas, as vontades, as nossas fraquezas, o que é maior do que nós, o que nos subjuga e nos obriga a reagir, ou não. Dependerá de cada um, suponho. Como é diferente para cada um o que não se sabe explicar, só sentir. E é assim porque sim. Um dia qualquer as minhas unhas vão voltar a ter cor, os dedos aneis, os brincos vão voltar a pendurar-se nas orelhas de haverá mais e outros colares. Ninguém notará nada, e eu não saberei explicar o que mudou, só saberei que é hora, porque sim. 

6 comentários:

  1. Em suma, tens o céu como limite. Beijinhos

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    1. :) por enquanto ainda está tudo meio nublado mas o céu está lá por trás, eu sei. E se o merecer, e me atrever, chegarei lá.
      beijo, Pink

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    2. Todos merecemos algo ou não estaríamos vivos, o teu instinto vai mostrar-te isso. Força

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    3. Verdade, todos merecemos algo... mas alguns seria ficar sem dentinhos, ou um balde de alguma coisa pela cabeça abaixo :))))) o que eu mereço não sei, mas sei que parte do que teremos já está, de alguma forma, nas nossas mãos, mas teremos de fazer por o materializar, o concretizar, fazer por isso. E sim, temos de ir buscar forças a algum lado, também para isso.

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    4. Ação /reação, o que mereces é, certamente o que dás!

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    5. Sabes, já acreditei muito nisso, que o Universo é redondo e o que dás voltará a ti. Infelizmente já não acredito, para isso era preciso que o Universo fosse justo, e não é. Não acredito que seja. Mas acredito, ou fui aprendendo, que recebemos apenas o que aceitamos receber, e muitas vezes o problema está em pensarmos que não merecemos mais, e então aceitamos só nessa medida, por vezes errada, e por vezes muito desfasada do que damos (para um lado ou para o outro, há erros nos dos sentidos).

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