sábado, 29 de outubro de 2022
quinta-feira, 27 de outubro de 2022
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
E no primeiro dia de férias do trabalho mas primeiro senoutes trabalhos, na loja do cidadão, enquanto analiso a distância entre o número que tenho na mão e o número atendido sinto uma olhos observadores. Certo que vejo cada vez pior ao longe , e ao perto também mas isso há menos tempo… vejo um personagem que não via há muito. Era dono de um café onde ia muitas tardes estudar. Tomava café, lanchava e as vezes voltava a lanchar, nos entretantos mergulhava nos livros. Ele era simpático, e giro que se farta, e além disso acho que engraçava comigo, com as minhas respostas prontas, o sarcasmo ou o sentido de humor. E era recíproco. Eu engraçava com ele. Com talvez mais 15 anos que eu, ou perto disso, não sei e nunca me interessou, mas que sempre lhe achei piada, achei. E hoje também. Ele teconheu-me logo, eu tive um pequeno delay, mas também lhe reconheci logo o sorriso, os olhos. O ar de galã meio traquina, mas sempre na dele. Era um bónus que não estava à espera, aqui na loja do cidadão, às nove e meia da matina, entre a senha da EDP e as Águas… mas soube-me bem. O sorriso largo, o cumprimento pronto, o olhar onde não vi os anos que passaram, e foram muitos. Vieram-me as tardes de estudo, os sonhos do que ainda podia ser, a música que ia passando durante a tarde, a esplanada quando tinha sol. E aquele homem, as vezes, por trás do balcão. Agora ali. Reconheci-o também pelos olhos, pelo olhar. Mas o que ele viu pareceu-me diferente. Estarei muito diferente, a ele achei-o na mesma, com mais… faço as contas talvez mais de 25 anos… como me viam há mais de 25 anos? O que viam? Como terá sido aquela vida estes 25 anos? Já não tem o café há muitos, isso eu sei, do resto não sei. De mim não saberá nada, talvez apenas que precisei de alguma coisa no balcão das águas… do balcão dele só sei que há 25 anos era onde eu ia pagar a conta… e ele as vezes dizia, com aquele sorriso malandro disfarçado, que tinha de ter quota quando o nosso futuro brilhante chegasse, tantas eram as horas que lhe ocupávamos as mesas. O futuro chegou mas o dia está tão enevoado… devia ter-me sentado ao lado dele e conversado. Para a próxima não hesito.
sábado, 22 de outubro de 2022
Continuo a dizer-me que não tenho o que dizer, mas as palavras às vezes parece que querem ouvir-se. Puxam-se umas às outras como crianças na hora do recreio, e tudo vai saindo não sei de onde, para dizer não sei o quê. Tenho palavras, frases que me surgem do nada, agora repetidamente. Durante muito tempo treinei-me para as dizer para dentro, para as aprender e prender ao esqueleto, para que eu não andasse sem elas coladas a mim momento nenhum. Nenhum. Agora, agora sem eu as chamar elas chamam-me, e dizem-me coisas que agora já sei, mas não quero voltar a saber. Não quero ouvir. Não quero voltar a constatar o desamor, o amor que nunca foi, a entrega a um ausente que nunca foi presente, o tempo que correu e não saiu do sítio. Não quero lembrar quando não fui amada, não quero lembrar o que foi mentira duma verdade inexistente. Não quero lembrar que fui tua por anos, e por anos depois não deixei de o ser. Não quero lembrar. Mas as palavras não me deixam. Não sei quem as traz ou o quê, que isco os dias trazem, os calmos e os apressados, para tantas vezes pescarem essas frases que deixam por dentro da minha boca um passado apodrecido, onde tantas vezes, demais, semeaste beijos que não cresceram nunca em ti. E por aí morro devagarinho nos dias claros ou cheios de nuvens. E onde antes me obrigava a dizer as palavras para me lembrar, para te afastar mal a ideia de ti me assomasse, agora afasto-as para não me perseguir um passado que não quero entranhado nos ossos, emaranhado nos passos. Preciso do esqueleto para caminhar para longe do que não cheguei a ser, do que não serei, do impossível de ser. Preciso da distância possível do impossível que esgravatei com a força do crer. Nunca soube usar o que tinha. Sempre achei que chegando, não é preciso usar nada, só ser. O resto, se existir, aparece; se não, o querer não o cria, é impossível forçá-lo, quanto muito imita-o, engana, brinca ao faz de conta. Mas uma vida de faz de conta, conta para quê? para quem? Para mim, não.
terça-feira, 11 de outubro de 2022
Cortámos a trança
Mas ainda me aparece
No bolso
Do tempo parado
Na correria de qualquer dia
Tantas estações depois,
Tu, eu.
Dois e um bolso,
Cheio de nadas entrelaçados
Duma trança que já não é tua,
nem minha.
Que raio faz no meu bolso?
[vi esta fotografia, o semáforo onde a seguir parei deixou cair as palavras. Não sei de onde. Deviam estar num bolso e eu não sabia. Talvez há muito tempo, talvez só desde que o preto e branco da foto me acordou a retina. Não sei. Não importa. As palavras surgem-me, às vezes ainda as tento agarrar a tempo de não fugirem completamente. Outras deixo que fujam, noutras até quero.]