segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

[foto @bird.ee]

E quando a vida nos despoja de nós mesmos? Quando toda a dor e todo o sofrimento nos fazem abrir mão de tudo, quando deixamos de ter força para fechar as mãos connosco dentro - aguentando-nos enquanto podemos e temos de aguentar, e depois deixamos ir tudo porque achamos que já ninguém precisa de nós? Que somos um estorvo que não queremos ser, quando já não queremos ser nada? Quando nos falam de coisas que foram conversadas, ontem, a semana passada ou há vinte minutos, que foram ditas, que percebemos que quem nos fala sabe do que fala, e em nós apenas se abre um  imenso buraco negro... de vazio e confusão e vergonha? Não fazemos ideia do que falam, estamos perdidos, sem caminhos. Quando de repente acordamos longe de tudo ou de nada, fora de nós, e não sabemos onde estamos. Todas as ruas levam a um qualquer desconhecido e não sabemos qual a direcção para vir à tona, para nos regressarmos, para nos voltarmos a ser e a sentir, para encontrarmos o caminho para casa? Donde cada vez menos queremos sair? Lá ainda não nos perdemos.
Como fazemos quando a vida despoja a vida em vida das pessoas que amamos? Como fazemos? Como dizemos que percebemos tudo, que percebemos o medo, o pânico, a vergonha até, no buraco negro que se desenha no rosto quando se cai no desconhecido que devia ser conhecido, mas que queremos só que tenha vontade de melhorar, de viver? Que sabemos que esta vida se agarra a quem nos agarra a ela? Que a vida não é obrigação de cumprir tempo, nem o tempo nos liberta dela - a vida é o tempo.