Nunca foi o meu forte, com o tempo, a idade e a vida, não tem melhorado, é uma falta cada vez mais apurada. Quanto mais valorizamos o tempo, quanto mais percebemos que é limitado, menos paciência se tem para o que afinal se revela pouco importante ou pouco verdadeiro. Talvez a paciência seja só o nosso nível de tolerância ao não essencial, ao não verdadeiro, ao que não fica.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019
Sonhei com um primeiro beijo.
Acordei com uma pergunta.
Agora pus-me a pensar se os sonhos sabem mais do que nós queremos saber (ou ver),
se nos tentam acordar para sonhos que nos acompanham como sombras silenciosas.
Às vezes as sombras dizem mais de nós, de tudo, que toda a realidade à luz da ilusão.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019
[foto @bird.ee]
E quando a vida nos despoja de nós mesmos? Quando toda a dor e todo o sofrimento nos fazem abrir mão de tudo, quando deixamos de ter força para fechar as mãos connosco dentro - aguentando-nos enquanto podemos e temos de aguentar, e depois deixamos ir tudo porque achamos que já ninguém precisa de nós? Que somos um estorvo que não queremos ser, quando já não queremos ser nada? Quando nos falam de coisas que foram conversadas, ontem, a semana passada ou há vinte minutos, que foram ditas, que percebemos que quem nos fala sabe do que fala, e em nós apenas se abre um imenso buraco negro... de vazio e confusão e vergonha? Não fazemos ideia do que falam, estamos perdidos, sem caminhos. Quando de repente acordamos longe de tudo ou de nada, fora de nós, e não sabemos onde estamos. Todas as ruas levam a um qualquer desconhecido e não sabemos qual a direcção para vir à tona, para nos regressarmos, para nos voltarmos a ser e a sentir, para encontrarmos o caminho para casa? Donde cada vez menos queremos sair? Lá ainda não nos perdemos.
Como fazemos quando a vida despoja a vida em vida das pessoas que amamos? Como fazemos? Como dizemos que percebemos tudo, que percebemos o medo, o pânico, a vergonha até, no buraco negro que se desenha no rosto quando se cai no desconhecido que devia ser conhecido, mas que queremos só que tenha vontade de melhorar, de viver? Que sabemos que esta vida se agarra a quem nos agarra a ela? Que a vida não é obrigação de cumprir tempo, nem o tempo nos liberta dela - a vida é o tempo.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019
...pussy cat...
...só agora é que me dei conta que ontem era o dia do bichano - vulgo gato...
Há mesmo dias mundiais de tudo e para tudo, valhamedeus...
...qualquer dia até há o dia de... de... de...
...de sei-lá-o-quê!!
Não sou nada de gatos, diga-se, com aquela mania que têm sete vidas e que caem sempre de pé, que têm de ser conquistados e tratados como realeza. São elegantes, bonitos até alguns, altivos às vezes, mas de certa forma parecem-me pouco reais, de pouca verdade, de demasiadas pelagens.
Gosto de cães, da inevitabilidade daqueles afectos sem razão nem fronteiras, dos pulos quando se chega a casa de que reclamamos, da alegria espontânea que não se esconde. Gosta-se e mostra-se, não se anda aqui com joguinhos de poder e afins. E não não caem de pé, sofrem, choram, pedem mimo e vivem a vida como se só tivessem uma. e isso conquista-me sem me querer conquistar, gosta-se porque se é assim, se respira a vida assim, e só.
Bom dia!
domingo, 17 de fevereiro de 2019
[foto @dmitrygrechin]
Dos domingos.
Dos domingos.
... cada um com o seu.
O meu tem dormir até não apetecer fechar os olhos
e ronha até à luz quente nos fazer cócegas nos pés.
Vontade de andar, de passear o sol pela trela da esperança.
e ronha até à luz quente nos fazer cócegas nos pés.
Vontade de andar, de passear o sol pela trela da esperança.
Bom dia!
sábado, 16 de fevereiro de 2019
"Um sol branco e desapaixonado brilhou lá no alto, no céu. Na altura, desejei afiar-me nele até me tornar santa e esguia como a lâmina duma faca."
Sylvia Plath, in A Campânula de Vidro
Comprei este livro na Feira do livro em Lisboa, quando lá passei durante o ano passado, vi-o e não hesitei, tinha há muito curiosidade pelo livro, e curiosamente, algum receio. Sabia pelo que havia lido que era autobiográfico e pelo que sei da vida dela, seria por isso um livro, não só pesado e denso, mas com muitas probabilidades de me tocarem de formas e em sítios que prefiro deixar quietos não desbravar. Quando comecei a lê-lo surpreendeu-me, era leve, fácil, corrido. A única página que foi dobrada foi aquela onde esta frase estava, porque li-a e vi, transparente, o suicídio onde ele, na história, ainda não se apresentava. Mas li, claro como água, expresso duma forma extraordinária, que descreve tão bem, tão nitidamente, uma dor que não deixa respirar, como um punhal de lâmina fina na alma da carne, o mesmo que matará o inferno de não conseguir, nem querer viver, assim.
O livro parece, de repente, mais à frente, descambar por completo, sem que consigamos identificar exactamente o porquê (ou eu não consegui, isto é) o que aconteceu, para de repente, duma vida assente numa relativa normalidade, se cai num carrossel onde é o suicídio - ou a ideia dele - a única força motora. Fiquei a pensar se a vida será assim, tudo normal até um ponto, a partir do qual tudo se precipita num abismo que não sabemos navegar, nem queremos. A falta de vontade de tudo, a falta de um objectivo ou sentido para o que quer que seja, a necessidade de não se querer sentir mais o que se sente - ou de não se querer sentir mais, ponto. O que me impressionou foi esta clivagem, como se aparentemente não tivesse sido um processo, como se tivesse havido ali uma disrupção que alterou e impossibilitou o status quo, o ir levando. E esta frase, no entanto, mostrava já que algo latente se cozinhava no dia-a-dia que se pretendia normal e suportável, que se fazia normal, que se disfarçava sem se saber que se estava a disfarçar, que doía sem ainda se saber como ou porquê, onde de repente e sem aviso, parece que se vive o mundo dentro duma campânula de vidro que não vimos crescer à nossa volta, e que nos isola de tudo, que não deixa respirar o mundo, ser como as outras pessoas.
[foto @gabrielerigon]
Modo fim‑de‑semana.
Versão interior, para a versão exterior juntam-se umas calças de ganga à receita
e vai-se passear a pintarolas ao sol, que já apetece...
Apetece muito, até, e uma esplanada para um café e umas leituras...
bem sei que isto é uma primavera de faz-de-conta que ainda andam a brincar connosco, mas o sol que apanharmos, já ninguém nos tira ;)) e eu está-me a apetecer sol, a melancolia já teve a sua estação, o seu tempo, as suas lareiras. Apetece pele agora, senti-la através do calor do sol e da brisa que corre fresca a caminho do futuro.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019
Ahahahah
Almôndegas, portanto... também podia ser carne picadinha...
Mas é quinta, é dia de almôndegas, ‘tá certo.
Não importa o que que comem - tudo menos menos restos, isso nao (nem comer nem ser...) - desde que gostem da companhia, da conversa, do silêncio também ... e da sobremesa... ou entrada!! (também há essa modalidade, é muito apreciada e previne tampas épicas do género... ah e tal acabámos de comer vamos esperar um tico... ahahahah)...
Bom dia, e boas almôndegas ;))
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019
[inagem @jesuso_ortiz]
E que bem que anda a saber-me este cheiro a primavera, esta amostra de sol e prelúdio de cor... a viagem para o trabalho torna-se mais quente, com o olhar atrás dos óculos de sol e a luz a puxar o sorriso para fora da toca de inverno... como um dia doce à sombra duma amora :)
(ou framboesa, mas gosto mais da palavra amora, crucifiquem-me )
(ou framboesa, mas gosto mais da palavra amora, crucifiquem-me )
terça-feira, 12 de fevereiro de 2019
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019
Um bom exemplo do porquê de eu gostar tanto do que este senhor escreve...
é bem verdade. Depois, se calhar, procura-se, sem sequer nos apercebermos,
sempre o mesmo em todos os lugares diferentes. Talvez no meio disso se encontre algo que surpreenda, e esse seja um novo paradigma, um novo ciclo,
tudo comece de novo - até o procurar o mesmo depois de o ter encontrado.
O mesmo - o que nos faz sentir querer sempre esse mesmo, mesmo que diferente do anterior.
sempre o mesmo em todos os lugares diferentes. Talvez no meio disso se encontre algo que surpreenda, e esse seja um novo paradigma, um novo ciclo,
tudo comece de novo - até o procurar o mesmo depois de o ter encontrado.
O mesmo - o que nos faz sentir querer sempre esse mesmo, mesmo que diferente do anterior.
sábado, 9 de fevereiro de 2019
E enquanto faço tempo, o tempo faz-se sal e luz filtrada de cores suaves e pensamentos que não agarro debaixo das conversas voadoras das gaivotas. Há um frio que se abeira mas as ondas levam-no para mar alto, onde não me encontra. Quero que a esperança se me entranhe como as areias finas que ainda se encontram, coladas em algum recôndito canto esquecido, passados vários invernos de se terem cruzado connosco.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019
" (...) Mas para mim, à altura da tua morte nada releva mais quando olhas para trás do que saber da qualidade da tua intimidade com quem amaste. Conseguiste criar, desenvolver, manter, cultivar, acarinhar e aproveitar o máximo de momentos da tua intimidade com quem amaste, ou não? Deitaste-te e acordaste com quem gostavas? Tentaste chegar a uma pessoa improvável (para os outros) mas que dentro de ti sabias que tinhas que tentar?"
Roubado ao (romântico do) Bom Sacana
"Foder é essencial mas dormir com quem se gosta é decisivo, sem isso não há felicidade. Claro que para lá chegar é preciso introduzir um conjunto de variáveis na nossa vida - como sorte, experiências anteriores, estarmos nós próprios preparados para fazer alguém feliz (e vice-versa), paciência, persistência, todas essas cartadas incertas - mas dá para ser feliz nesta vida com mais alguém, não acreditem no contrário. Apenas não esperem Walt Disney. Um amor sacana é muito melhor aposta, docemente viciado por conspirações, desencontros, sentido de humor negro e corrosivo, bitch para aqui e para ali, mas em todas as circunstâncias um amor muito pegajoso, solidário, trancadas contra as paredes, broches de fazer esquecer o ano em que se está, ou pelo menos boa companhia, com arte e gosto, e sinceridade. Mais vale ser verdadeiro do que perfeito."
Talvez, realmente o que levamos sejam as memórias de intimidade, os amores sacanas, todos os momentos onde fomos verdadeiros - e isso se tornou perfeito, porque assumir que se gosta do que é imperfeito, sabendo-o imperfeito mas onde nos sentimos bem, é talvez a melhor versão do que pode ser perfeito para nós - onde fomos mais transparentes, onde nos entregámos mais indefesos mas confiantes que não nos magoaríamos ( e nem sempre assim é), quem e como amámos, quem e com que vontade os encostámos à parede, com quem rimos cheios de cumplicidade e como nos sentimos amados. Sim , isso deve ser o que fica, o que permanece tudo o resto o peso do tempo esmaga. E ainda bem.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019
terça-feira, 5 de fevereiro de 2019
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
[foto @heinipaavola]
A natureza também “píxeliza”...
olho para esta maravilha e é o que me ocorre,
em vez do seu inverso, que seria o mais natural.
Gosto da imagem, fico-me a olhar o frio a tomar forma aos olhos.
O frio toma-nos em pequenas partículas, devagar, invade-nos e conquista-nos o corpo. Às vezes arrepia-nos, outras encolhe-nos de dentro para fora.
Às vezes instala-se nas almas, tornam-se frias,
reduzem-se a operações aritméticas de sobrevivência - o frio entranha-se de tal modo que talvez nunca mais voltem a aquecer, e provavelmente nunca foram capazes de aquecer ninguém pelo lado grande.
O frio precisa de sítio propício para se acomodar e reinar.
Está um frio do caraças!!...
e enquanto eu sentir frio, sei que estou quente,
e enquanto acreditar que há olhares que nos aquecem por dentro,
e sorrisos que nos chegam dentro,
nunca me abandonarei ao frio que gela abaixo da epiderme.
Talvez seja uma questão de fé. Ou só de estupidez.
O frio nem sempre conserva a razão em bom estado...
... só a memória de nos sentirmos quentes.
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