terça-feira, 5 de abril de 2016

[foto @moniblanco]

Há muito tempo que não vinha apanhar este frio nocturno da varanda. Hoje apeteceu-me, às vezes não sei porque regresso a alguns antigos hábitos, revisito-os propositadamente, talvez para ver se encontro algo de mim no sítio onde me deixei. Sei que agora nem olho os carros que passam, ou se olho não é para procurar ninguém, é apenas para ver movimento doutras vidas. Aqui só restei eu e memórias desarquivadas.
Depois, estou aqui sentada e lembro-me de me dizer que me adorava e não precisava de mais nada para ser feliz senão os gestos simples de amor que gostaria de poder entregar-lhe. Como se o amor se falasse por gestos e nos entendêssemos assim perfeitamente. Em amor. Num amor que não existe, os seus gestos calaram-se, emudeceram e cegam-me todos os dias de vazio. E eu aqui, neste vazio sentada, com eles a gritaram-me por dentro, a berrarem-me à alma. Como se eu os pudesse ouvir.

2 comentários:

  1. Querida Olvido! Que bom ver-te na varanda :)
    Pois não. Não podemos simplesmente desligar os pensamentos. Volta e meia, memórias que queremos esquecer voltam sem serem chamadas.
    Mas gente sábia diz que o tempo tudo cura, tudo resolve... eu cá não tenho a certeza disso.

    Beijinhos.

    nanda

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  2. Nem tu nem eu, há muito que o digo - o tempo não cura nada só nos ajuda a lidar melhor com a doença, só isso. A tentar tirá-la do palco dos pensamentos teimosos, das memórias insistentes, dos sentimentos que não parecem cansar-se de sentir. Acho que o tempo só ameniza a intensidade, mas gostava de pensar que cura, que leva as memórias e o resto com elas, que é um vento que limpa e esvazia para dar lugar a outras coisas começarem do zero. Não o sinto mas também o oiço muito, como dizes :)
    beijinhos, nanda

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