Este fim‑de‑semana deu-me para as fotografias. Para organizá-las, guardá-las, e no caminho revê-las. Acabei por ver muitos anos, várias fases, momentos vários. E depois as de agora, da última viagem, dos últimos momentos registados, de quem falta agora nas fotografias. Dei por mim a rir-me algumas vezes, outras a ter vontade de chorar. Mas o que me fez pensar e parar e sentir, foi a diferença, a diferença em mim. Já não tenho gargalhadas nos olhos, agora trago nos olhos uma tranquilidade que não tive tempo de aprender. Como algo que me deram para tomar com os dias, ainda que sem receita ou recomendação. Algo que adormeceu partes de mim. Algo que aconteceu e instalou-se. E não é que não encontre gargalhadas nas fotografias agora, não é que o sentido de humor me tenha abandonado e partido para parte incerta, não é que agora me tenham deixado de assistir as parvoeiras da praxe, não… é só que os meus olhos já não gargalham. E isso vê-se. Ou eu vejo, nas fotografias. Há um brilho que falta. E vejo as fotos onde o via e vejo os anos e penso como é possível ser tão feliz e tão infeliz durante tanto tempo. Só é possível quando um lado e outro se equilibram de alguma forma, só é possível que tanto tempo passe e se continue quando o que é mau é tão mau se o bom for extraordinário. Se o bom fizer os olhos gargalharem com a vida, se houver uma comunhão com a vida, e com o sentido que ela nos faz. Mesmo que se chore muitas vezes. Há quem diga que devemos estar agradecidos por ter vivido algo assim, não sei se concordo, diria mesmo que não, mas o certo é que há pessoas que nunca chegam a ter gargalhadas nos olhos, nunca chegam a saber o que isso é. Nunca chegaram a sentir o que vejo em tantas fotografias no meu olhar. Mas as lágrimas todos experimentam duma forma ou doutra. Não estou agradecida. Não agradeço ver-me agora nas fotografias e não me ver ali inteira, ver-me numa tranquilidade que me foi trazida com todas e cada uma das perdas que fui guardando. Sim, eu guardo as perdas, religiosamente. E as gargalhadas. E a felicidade. Estão guardadas e vividas. Mas e agora? E é este “e agora?” que me faz escrever. Sair do meu silêncio confortável, essa música perfeita do meu fazer os dias. As perguntas, sempre as perguntas em mim como resposta para tudo. Ou para quase tudo. Foi nesse quase que acho que me perdi. De tudo. As gargalhadas já não brilham nos meus olhos.
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