segunda-feira, 15 de julho de 2024

Será sensato
descobrir o momento
em que se deve
deixar de escrever
e apenas
passar a limpo?


José Alberto Oliveira


Deixei de escrever há muito, sem quase dar por ela. Um adiar constante de algo que antes não conseguia adiar, saía-me dos dedos para não asfixiar alma, era uma necessidade quase básica, extravasar-me para me equilibrar. Deixei de escrever mas nada passou a limpo, nem tenho nada para passar a limpo, o que foi escrito na imperfeição do momento é o mais perfeito que consigo fazer, viver ou escrever. Sempre fui pela espontaneidade, pelo momento, pela vontade do momento que grita e não se quer calar e que eu não gosto, ou quero, calar. Como o silêncio que foi entrando e instalando-se nos dias. Foi acontecendo. Um silêncio diferente em mim,  um que não fala, que serve de fundo ao correr dos dias corridos, com o tempo contado, que não tem nada para contar. Que não nos deixa sequer querer parar para olhar para dentro do tempo. As voltas pela cidade, os cigarros fumados nas ultimas cores do dia, tudo agora perdeu lugar porque o tempo ocupou tudo com coisa nenhuma, ou às vezes assim me parece. As mesmas vezes em que chego a sentir falta de mim, de me encontrar, de me sentir. Ou talvez tenha andado a fugir de tudo isso, e de mim também.  Escrever sempre foi um encontro diário comigo, e talvez eu devesse ver-me mais vezes, conversar-me, sobre tudo e nada. Quanto menos se conversa menos se tem para conversar, de repente não temos interesse em falar, em pensar, em fechar os olhos e ver. Mas a essência é uma coisa meio selvagem, e mal nos distraímos abraça-nos e aí percebemos que há abraços que nos fazem falta. Aqueles em que nos encontramos.

Sem comentários:

Enviar um comentário