domingo, 5 de março de 2023

Ler, ler ,ler. 
Música, música, música. 
Voltar ao yoga de manhã, que há meses deixei. 
Passear as bichas ao fim do dia, quer seja de sol ou de chuva. Ao fim de semana sem falhas e em modo prolongado.
Estar com as minhas pessoas, e não fazer fretes a perder tempo com quem não corresponde. 
Cuidar do meu irmão, zelar que a minha filha continua a crescer bem, por dentro e por fora. 
Comer paisagens com aquela respiração funda e lenta que chega à alma, apreciar a solidão como uma prece interior.
Escrever mais, escrever-me de dentro para fora, escrever como quem se lê mergulhada para dentro.
Coisas que deixei, que fui deixando, coisas que me foram levando num processo de anos, coisas minhas, que eu gostava, que me faziam bem, que me faziam pelo menos sentir bem. 
Nos últimos anos tenho lido cada vez menos, não tenho conseguido matar o mundo de fora vivendo o mundo por dentro dos livros. Deixei de ter esse escape, essa capacidade, a cabeça não deixava este mundo, esta realidade, e para me evitar deixei de abrir livros e passei a papar séries, das que não deixam neurónios disponíveis enquanto os olhos estiverem entretidos com aquilo. Li poucos livros no ultimo ano, uma miséria. Para minha vergonha ainda tenho aqui que deixar esse balanço. Que será mais difícil de fazer porque também deixei de comentar aqui as frases que me apanhavam no que lia e permitiam fazer essa cronologia facilmente... que é talvez um sintoma, ou uma consequência, ou as duas coisas em pescadinha-de-rabo-na-boca. Já menos coisas me prendem, me surpreendem, me arrebatam. Estou a tentar voltar a ter sonhos, mas não é tão fácil sonhar como se pensa. Quando os pés são pesados, o corpo parece acumular tempo medido em desilusões, em dores em mágoas, há um olhar que se perde, há vontades que morrem à sede, há um brilho que morre. E é esse brilho que alimenta os sonhos, a capacidade de acreditar a vontade de ir atrás. E o acreditar que conseguimos, acreditar em nós. Talvez esta seja a parte mais difícil, acreditar em mim quando olho as mãos e estão vazias, de tudo o que mexeram e fizeram até hoje, estão vazias. Com se nada tivesse feito, como se tudo se esvaísse por entre os dedos.
É dificil, tem sido duríssimo, olho para trás e não me lembro de tréguas. Vou-me lembrando, sim, de sorrisos por entre as batalhas, durante as guerras, sempre e em qualquer situação, como as risadas que ainda hoje me saem, quando por dentro guardo lágrimas a mais, mas risos ainda deixo que me invadam e não os afasto por medo que me possam confundir por bem. Não, essas contas são minhas e só eu as faço. 
Quero voltar a ler, quero voltar a precisar de música como se o corpo pedisse. Voltei ontem ao yoga e espero conseguir manter, porque me faz bem e me faz sentir bem, pelo menos faz-me sentir menos empenada e perra... e velha vá. E quero-me rodeada das pessoas lindas que consegui ir fazendo minhas, e que são extraordinárias sim, não sei como me aturam, mas isso também é melhor nem querer saber. Há coisas que não se explicam. O amor não se explica, e a amizade é amor sem desejo, sem tesão, de resto tem poucas diferenças. E agora vou passear a bicha que ontem não foi ao passeio. Estou sozinha, tenho de revezar-me :) 
Vou tentar, vou tentar recuperar-me o que houver para recuperar, vou começar pelo que sempre me fez sorrir por dentro, depois veremos. A minha vida vai mudar. Já mudou em tanta coisa que não escolhi, agora vou mudá-la eu e não lhe vou pedir licença, não hei-de morrer, e se for esse o caso ao menos foi a tentar encontrar quem já fui, quem quero ser, quem espero ainda ser. Mesmo que diferente.

4 comentários:

  1. Olá Vi, quando começamos a ficar cansados em todos os aspectos...devemos fazer um "reset mental", não é fácil mas o corpo e a alma agradece. Grande abraço;)

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    1. Sim, as vezes é preciso um reset, rodearmo-nos das pessoas e das coisas que gostamos, ou ficarmos só connosco e tudo o que nos faz, que guardamos e as vezes precisamos voltar a ir buscar. Talvez tudo isto seja um pouco isso…
      Um beijo para ti, Legionário:)

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  2. Também quero para mim, isso tudo. Leio-te com garra, fico feliz por ti!

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    1. Há dias em que acordamos com vontade de lutar por nós, de acordarmos, de vivermos o que podemos viver. Este foi um destes dias. Depois deste já houve dias maus, mas houve neste qualquer coisa que me mudou, que me mudou a perspectiva, talvez.
      Beijo :)

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