sábado, 24 de dezembro de 2022


 O Natal há muito deixou de fazer grande sentido para mim. Já não gosto de andar atrás de prendas, e ao mesmo tempo de toda a gente…parecemos todos ratinhos numa roda em que nos puseram… já não tenho o mesmo prazer nas luzes de natal, parece darem a badalada para seguirmos para a dita rodinha … Dantes gostava de passear à noite de carro, sozinha quase sempre, pela cidade vestida de Natal. Agora, não me perguntem porquê, mas já não me aconchega o por dentro. Tenho pena, de facto, mas já não tem esse efeito. Há coisas que ao longo da vida vão deixando de ter o mesmo efeito. Algumas lamenta-se que assim seja, outras agradece-se. Não sei dizer bem o que o Natal é agora para mim. Este ano, mais que nos outros, vai ser cozinha e tentar oferecer aos meus pais, irmão e filha, um jantar como eram os jantares em casa dos meus pais, só que na minha, e meu. Com lareira, mas sem árvore de natal, com doces mas sem arroz-doce. Um Natal onde está gente que já não está… na toalha que herdei de uma avó que não conheci, numa loiça oferecida por um tio que adorava os pratinhos espalhados de passas com pinhões (não gosto, mas vão estar por aí), nas receitas dos doces herdadas. Ninguém desaparece enquanto os lembrarmos e os falarmos e lhe usarmos as expressões, e às vezes, em conversas mudas, onde lhes pedirmos conselhos em que precisamos de amparo, além de sabedoria. Já aqui disse, para me enfiarem na cozinha é preciso muito amor. E hoje vou lá passar o dia. E talvez seja isso, mais que qualquer outra coisa, o Natal, amor, amor pelos nossos, pelos que temos dentro e queremos, principalmente esses - essencialmente. Se todos assim fizessem não haveria tanta solidão, suponho.,. E sim, amor também pela humanidade no geral… mas estou tão céptica em relação à humanidade, e tão cada vez mais, que acho que é mais uma utopia, que um real desejo. 
Olhei a fotografia e disse: é isto “love right “, ama direito, bem, de jeito, entrega-te e dá o que tens de bom, e recebe direito, porque amar parece-me que é uma rua de dois sentidos, ou terá outro nome, e não será amor. Amor é saber dar e saber receber, mimo, carinho, cuidado, atenção, respeito, mau feitio às vezes, opiniões diferentes tantas… sentirmo-nos casa no aconchego do outro. Haver um lar onde a intimidade está impregnada no ar que se respira. E onde respiramos fundo. 

Love right, nunca à sinistra. 

O amor não é uma imposição, é uma benção, um bónus, uma sorte até. Nem todos os meus são da família, e nem toda a família faz parte dos “meus”. Família nem sempre é amor, mas o amor faz a (nossa) família.

Bom Natal a todos, perto de todos os que gostam e querem bem, e preferencialmente longe da cozinha :) para onde vou agora, sem hora prevista de conclusão de tarefa… espero que dê tempo pelo menos de nao ir para a mesa jantar de pijama, como estou :D 

2 comentários:

  1. " Ninguém desaparece enquanto os lembrarmos e os falarmos e lhe usarmos as expressões, e às vezes, em conversas mudas, onde lhes pedirmos conselhos em que precisamos de amparo, além de sabedoria."
    Sabes Vi, tenho recordações muito mais fortes do Natal, quando era vivido na noite de ceia com a minha avô e restante familia, acho que nesse tempo vivia-se muito mais o espirito de natal, depois passou a ser um natal mais "mecanizado" e muito mais comercial.
    Mas pelo menos nesta noite, que nos sirva de consolo à alma, e deixarmos um pouco de lado...o que nos apoquenta nos restantes nossos dias.
    Feliz Natal, bjs:)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Espero que tenhas tido um óptimo Natal :)
      Quanto ao que dizes, acho que o que realmente apoquenta a alma não é fácil afastar, seja qual for a ocasião, mas acredito que há coisas que nos fazem sentir melhor com as nossas apoquentações…
      Beijo para ti, Legionario

      Eliminar