Não nos ensinam a chorar, e talvez devessem. Alguém, algures na nossa infância, devia ensinar-nos. Talvez assim crescêssemos e houvesse menos afogamentos em seco, menos asfixia pelo lado de dentro do silêncio. Talvez nos conseguíssemos livrar de algum peso, ou alguma mágoa, ou aquelas coisas que doem caladas, tanto, que nos habituamos a isso, como uma respiração interna que nos acompanha a outra e já nem distinguimos. Nunca fui muito de chorar. Choro de choque, ou pela impotência prolongada, suponho. De dor física, também, as outras eu acomodo, assobio para o lado enquanto as arrumo, ou tento. Fecho janelas com vista para essa realidade, mergulho num casulo de dormências e finjo que vivo onde os outros me vêem. Nunca usei o choro como adereço de cena, ou alavanca de negociação, nunca. A última vez que chorei foi um eco de outro choro que não consegui amparar, ou evitar, ainda não consigo, e se calhar é por isso que choro. A impotência perante a dor de quem amamos é uma dor que ressoa em vagas próprias e demolidoras. Não devíamos ver os nossos pais chorar, é como arrasar todas as defesas que ainda sentimos que nos protegem. A última vez que chorei foi assim, a última vez acordada, porque acordo muitas vezes de sonhos a chorar. Acordo a soluçar, como se acordada esse modo me estivesse vedado, inacessível. Acordo e paro de chorar. Como se o mundo não o permitisse. Hoje se fosse dessa tribo amiga das lágrimas acho que tinha chorado, tinha-me desabado um pouco para se segurar inteira de alguma parte. Mas não. E agora aqui, sentada a ver chover lá fora, com a cabeça a estalar como refracção do dia, gostava de poder chorar o que me angustia, o que me chateia, aliviar o que dói e não sei anestesiar, só entreter para dissipar com o começo de um qualquer novo dia, que de novo não concebe nada.
Haverá curas de choro?... se calhar preciso duma dessas, chorar uma semana inteira, por tudo o que me quis convencer que não valeria as lágrimas que se vertessem, mas que guardadas dão de beber a tristezas que nunca morrem à sede. E outra semana por tudo o que me convenço que aguento em pé, enxuta de fraquezas de que me faço forte. Quando os que são fortes não se fazem de nada, apenas são.
Haverá curas de choro?... se calhar preciso duma dessas, chorar uma semana inteira, por tudo o que me quis convencer que não valeria as lágrimas que se vertessem, mas que guardadas dão de beber a tristezas que nunca morrem à sede. E outra semana por tudo o que me convenço que aguento em pé, enxuta de fraquezas de que me faço forte. Quando os que são fortes não se fazem de nada, apenas são.
"Dizem que chorar faz bem", em algumas situações acredito que sim, pois as lágrimas são um desabafo do que nos vai na alma, e nesse aspecto faz bem soltar as lágrimas presas em nós.
ResponderEliminarUm grande abraço, Vi:)
Gada
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