Perguntam-lhe altura e peso. Metro e oitenta, cinquenta e seis quilos. Lembro-me do número na balança hoje de manhã. Deu-me para me pesar hoje, sabe-se lá porquê. 56,4 dizia o visor. Na minha cabeça: mais 10 cms que eu e o mesmo peso. Ajudo-o a despir o casaco, e mandam-me sair. Vem-me à cabeça o sonho de há duas noites. Aparecia como numa fotografia, uma fotografia que há la em casa de quando era miúdo, talvez uns doze anos, o brilho nos olhos era talvez de menos. Nessa altura ainda tinha mãe, ainda que não por muito tempo. No sonho ele tinha a idade do meu pai, a mesma pose de fotografia de caça que não gosto. Mas era o meu pai, que lembro e quero lembrar assim. Direito, inteiro, com a postura que ter espinha dá a certas criaturas. Fiquei a pensar nisso, a sobreposição da mesma pose no mesmo contexto. Duas idades, nenhuma a de agora. Mais dependente do que em criança, nenhum brilho nos olhos. Sai da tac digo-lhe que está magrinho, mesmo que nunca tenha sido gordo. Diz-me que não, que já esteve muito mais magro, e vendia saúde. Quando veio da guerra do ultramar diz-me que pesava menos, mas que a vida nele pesava muito mais. Acrescentar o quê, responder o quê? Há guerras de que não se regressa e que ninguém ganha.
"Há guerras de que não se regressa e que ninguém ganha."
ResponderEliminarFaço minhas as tuas palavras Vi, todos temos as nossas guerras...assim como cicatrizes interiores.
Não há como escapar-lhes, legionário … e é também o que nos faz, nos constrói e mostra a força, ou não, dos alicerces…
EliminarHá guerras que nunca se ganham mesmo depois de muitas batalhas ganhas. Mas nunca se ganham guerras sem se ganhar batalhas.
ResponderEliminarE que venha a sexta-feira.
Abraço
Verdade, temos de passar pelas batalhas, mas há guerras que não escolhemos e que ninguém ganha… bom fim‑de‑semana:)
EliminarInfelizmente a guerra, seja qual for, fica dentro de nós, mesmo que resquícios... Beijinhos
ResponderEliminarFicam sempre, as que ganhamos e as que perdemos. Beijo, Pink
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