segunda-feira, 2 de março de 2020

Sento-me no chão, em frente à janela e enquanto acendo um cigarro, oiço o vento e vejo-o nos braços das árvores, na chuva tombada antes de cair no chão. Há quem tenha medo das grandes chuvadas. Eu tenho medo do vento. O vento que uiva entre os espaços que invade e percorre e agarra tudo o que não tiver raízes; o vento que sopra a ira que nunca parece esgotar-se, quando parece que amaina vem uma rajada que quase nos tira os pés do chão. Arraste tudo, arrasa tudo, se para isso estiver disposto. Não parece o mesmo que nos afaga a pele e acaricia os cabelos quando respira sem ira e refresca o calor do sol. Tudo é sempre tanta coisa, de bom e de mau. Protegemo-nos do que temos medo, por trás das janelas, e procuramos  brisa fresca quando o calor aperta. Às vezes esqueço-me que a brisa também é vento, outras que o vento também é brisa. Outras quero esquecer, mesmo, mas não sei qual parte.

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