quinta-feira, 19 de março de 2020

[Roberto Juarroz]

Deitar-me duas horas e meia depois de chegar a casa, exausta. Quando devia e queria vir cedo para casa, nem sequer sair de preferência, é o contrário. Há coisas assim: a vida. O cansaço parece que desfaz os ossos, os olhos parece que ardem, a ansiedade, o medo, aperta-me a garganta. Não sei como serão os próximos tempos, ninguém sabe, mas muitos imaginam e fazem contas. E eu acredito, percebo. E acho algum optimismo, aquele demasiado levezinho e dourado de frases de que “tudo vai correr bem”, só meio tresloucado, pergunto-me: bem para quem? Para que umbigo? Não estou com os meus pais vai fazer duas semanas, não arrisco, estou numa actividade de risco, não posso arriscá-los, e penso se chegaremos todos ao fim destes tempos. Não é pessimismo, no caso é mesmo só lucidez. Da que dói nestes dias em que o (nosso) mundo se resume a sabermos até onde vão os nossos braços de afecto, de preocupação, de querer saber de quem nos toca, mesmo que longe da pele, tão proibida agora. São também os dias de saber que braços nos tentam alcançar, saber, confortar, sorrir pelo telefone. No meio de tudo isto é bom perceber que há preocupação e carinhos recíprocos que são só abraços adiados, mas já dados. Mais do que ouvir “vai correr tudo bem “ gosto de ouvir, ou ler, simplesmente saber, que a verdade pesa e se sente (tão) nítida nos “como estás? Lá em casa tudo ok? Estás bem?”

E vocês, dos que não sei sem ser por aqui? Está tudo bem por aí?
Espero que sim :)

6 comentários:

  1. Sabes Vi, nestes dias com noticias a toda a hora do covid-19, as palavras por vezes ficam presas numa imensa angústia, e noto no olhar das pessoas algo que lhes vem das entranhas o qual nem elas sabem explicar, talvez algum temor digo.

    Vi, cuida-te e deixo-te um grande abraço de Ânimo:)

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    1. :) acho que não é de ânimo que preciso, mas de tranquilidade, de paz... nunca fui daquelas pessoas com medo de apanhar alguma coisa, nunca me afastei de ninguém por isso, muitas vezes ouvi para me afastar para não apanhar vírus ranhosos e nunca liguei, afundava-me nos colos que me apeteciam na mesma... não me lembro de dizer a ninguém chega-te para lá que não quero ficar doente. O perigo de não ter o mimo que me apetecia parecia-me sempre um risco muito maior, mais caro. Agora o medo não é só por mim, e afasto-me de toda a gente. Já sinto falta de colo e de apertar a minha filha quando tenho vontade de mimo, ou só de a apoquentar :) ... mas isto está só a começar. E a lucidez é uma sarna difícil de coçar...

      Abraço para ti, Legionário, e cuida-te, sim?

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  2. Olá Vi. Aqui por casa estamos bem (aparentemente porque afinal ninguém sabe na realidade quem está...). O miúdo está em casa desde sexta. Eu desde terça porque o serviço mandou nos para casa. O homem continua a trabalhar. Não sabe até quando... Até a fábrica fechar...
    E pronto cá vamos levando estes dias perfeitamente anormais, com escola à mistura e muita confusão.
    E tu Vi? Vais sobrevivendo?
    Vai dando noticias de ti e da pintarolas 😘

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    1. Eu até ver, sobrevivi :) exausta, sem me deixarem trabalhar de casa, mas a respirar. Daqui a nada ficarei em casa, assim o espero, para passar estes dias perfeitamente anormais, como bem dizes :)
      Ainda bem que está tudo bem, é tentar aproveitar o tempo...
      A pintarolas e a russa da filha dão-me cabo da cabeça... e dumas almofadas, e duns chinelos e duns sapatos, e da pouca paciência... mas são as únicas que podem levar mimos... a vida não é justa, pois. Sacaninhas com sorte ... ;))
      Beijo, Mafy :)

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  3. por aqui estou bem e por esses lados? vá, coragem! A minha mãe disse-me um destes dias que quando se deitava nã conseguia adormecer porque ficava a pensar no sofrimento do mundo, mas depois de manhã acordava com uma esperança renovada, que o dia iria ser melhor que o anterior... é preciso acreditar, se nã, o que é que andamos aqui a fazer?
    beijos

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    1. ... bom, Cigano, às vezes andamos a fazer asneiras, outras a tentar evitá-las ;)
      Por aqui tudo bem, já o sol quer despontar :) independentemente de tudo, a primavera vai chegar.
      Beijo para ti, Mau tempo :)

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