[Roberto Juarroz]
Deitar-me duas horas e meia depois de chegar a casa, exausta. Quando devia e queria vir cedo para casa, nem sequer sair de preferência, é o contrário. Há coisas assim: a vida. O cansaço parece que desfaz os ossos, os olhos parece que ardem, a ansiedade, o medo, aperta-me a garganta. Não sei como serão os próximos tempos, ninguém sabe, mas muitos imaginam e fazem contas. E eu acredito, percebo. E acho algum optimismo, aquele demasiado levezinho e dourado de frases de que “tudo vai correr bem”, só meio tresloucado, pergunto-me: bem para quem? Para que umbigo? Não estou com os meus pais vai fazer duas semanas, não arrisco, estou numa actividade de risco, não posso arriscá-los, e penso se chegaremos todos ao fim destes tempos. Não é pessimismo, no caso é mesmo só lucidez. Da que dói nestes dias em que o (nosso) mundo se resume a sabermos até onde vão os nossos braços de afecto, de preocupação, de querer saber de quem nos toca, mesmo que longe da pele, tão proibida agora. São também os dias de saber que braços nos tentam alcançar, saber, confortar, sorrir pelo telefone. No meio de tudo isto é bom perceber que há preocupação e carinhos recíprocos que são só abraços adiados, mas já dados. Mais do que ouvir “vai correr tudo bem “ gosto de ouvir, ou ler, simplesmente saber, que a verdade pesa e se sente (tão) nítida nos “como estás? Lá em casa tudo ok? Estás bem?”
E vocês, dos que não sei sem ser por aqui? Está tudo bem por aí?
Espero que sim :)