quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Sopra um vento quente, oiço as folhas secas no passeio a rolarem com a brisa e penso que há coisas em mim que não quero ouvir mais que não quero falar, raivas que me mordem minutos demais, revoltas que me cerram os dentes e ferram o silêncio que lhes quero dar. Não quero pensar em quem não me pensa, não quero sentir por quem nada sente. Quero dar silêncio ao silêncio que me doam e tanto me dói. Quero doar insignificância para quem sou insignificante. E quero fazê-lo como se não o fizesse, como se não me doesse. Levanto a cabeça e tento cheirar o aroma do calor, da brisa que me afaga os minutos aqui sentada. Aqui alapada neste silêncio que é prazer ao contrário do outro. Quero pensar que a noite foi boa, que o passeio foi simpático, que a conversa foi corrida, que quero sentir-me bem. Que quero gostar da vida assim, aqui, neste silêncio que as folhas que dançam lá em baixo me sussurram cá em cima. A vida tem de ser vivida com quem a quer viver connosco.
E daqui, donde parece que vejo a minha vida, há uma sensação de apaziguamento que vem de saber que dei tudo, que ninguém gostou ou gostará mais dele do que eu, e que qualquer um, com quem esbarre na rua, poderá gostar mais de mim do que ele. Que poderá vir a gostar.  Eu não perco amor nenhum por não o ter, apenas deixo de ter onde desperdiçar o meu.

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