Bem sei que não é um discurso optimista para primeiro dia do ano. Optimismo foi coisa de que (acho) nunca sofri, e se alguma vez por engano o sofri, logo a seguir sofri o reverso dessa ilusão, e com isso devo ter aprendido a lição. Não simpatizo particularmente (nada mesmo) com optimistas ou tolos, mas aprecio um realista que evidencie que às vezes as probabilidades estão a nosso favor, e que com isso está em grande parte nas nossas mãos que o resultado caia definitivamente para o lado que queremos.
O ano de 2024 foi difícil, o anterior também. Não consigo dizer qual foi pior, nem interessa, foram anos de perdas sucessivas, de crescimentos arrancados à pele e à força das lágrimas que teimam em cair pouco, mas que fazem muitos danos à alma, ao sorriso, ao olhar que perde brilho e graça. Às vezes olhamo-nos ao espelho e parecemos ruínas do que já fomos, e é o trabalho de cada dia voltarmos a reerguer algo onde se viva bem. No meio de tudo isto houve projectos novos que agarrei com a força e as unhas que me restavam. Houve coisas boas, como há sempre, e houve, como tem havido sempre, pessoas que nos acompanham, que nos desmontam as dores, que nos adoçam de ternura, que nos desenham sorrisos e que nos aquecem a alma dos dias. Houve uma miúda que achou que cresceu, que teve um baile de finalistas e que pouco depois se fez caloira, mas que ficou ainda debaixo de asa. Houve ausências que apertaram o coração e presenças que a demência do tempo, e de todas as dores, levou. Houve um balanço interior, perguntas caladas para dentro do olhar fechado. Houve respostas que me explicam porque me é difícil há tanto tempo fazer as coisas que mais me davam prazer antes: escrever, ler, ouvir música, procurar poesia nova explorando o mundo imenso da web, guardar neste processo trechos e fotos que me falavam algo, ou que falavam por mim. Tudo o que me devolvia a mim trazia-me a lugares onde precisei não voltar durante muito tempo. Aprendi que é difícil encontrar-me nesses sítios porque já não sou aquela pessoa, já não tenho aquela vida dentro, já não tenho o que tinha. E talvez não goste de o reconhecer, de o enfrentar. Ou simplesmente ainda não estou preparada para esse confronto, e procuro-me, mergulho para dentro noutras águas onde me possa encontrar hoje, agora, onde o eu que encontro me faça sentir eu. Onde eu não me sinta estranha ou perdida por estar sempre a adiar fazer todas essas coisas que sempre adorei fazer e encontrar-me nelas. Tenho novas coisas que gosto, prezo cada vez mais o silêncio a sós, e a escuridão que me faz sentir em casa quando me sento no chão de pernas cruzadas e fecho os olhos e o mundo e o que me resta dá-me paz e luz.
Não tenho desejos para 2025, tenho ainda algumas vontades para ir arrancando aos dias, objectivos para fazer o tempo ter sentido, tenho desejos, sim, para cada dia que começa, recomeçando-me. Depois posso pedir algumas coisas, como peço sempre em qualquer dia que pense nisso: saúde para os que gosto. Isto eu peço, o resto tenho de ser eu a ir buscar, já sei.
Façam o vosso 2025, os próximos 364 dias, como o querem, ou o mais aproximado que conseguirem, e divirtam-se no caminho!
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