[desconheço a autoria]
46. É um numero, sempre disse que são apenas números, e são. Vão somando, ou subtraindo conforme queiramos perspectivar. Certo é que o que vivemos já ninguém nos tira, para o bem e para o mal. Há males que serão sempre males e bens que serão sempre bens. Com sorte e alguma inteligência tornamos os males em aprendizagens, em crescimento, em conhecimento da dor, até. Em conhecimento das nossas fronteiras e limites, o que nos leva a impô-los e onde afinal estão - às vezes estão muito para além de onde achávamos que estavam, outras precipitam-se muito antes de o desconfiar, e na verdade nunca sabemos até os testarmos. De alguma forma a vida, e tantas vezes a dor, vai-nos preparando para o que vier e nalguns casos até o evita. Infelizmente, às vezes, os males evitam futuras felicidades, fazem-nos descrentes, cépticos, demasiado realistas na boca de alguns, e pessimistas na boca de muitos. Seja o que seja somos a soma de tudo isso, do que nos aconteceu e de como vivemos o que nos aconteceu. Como o sentimos, como o sofremos, com que dignidade soubemos responder e aceitar, e como fomos felizes na felicidade que às vezes encontrámos, ou espreitámos, vá. Somos as gargalhadas no meio disso tudo, o saber rir do que nos magoa, das figuras que fazemos, do que somos em caricatura que sabemos esboçar nós mesmos. Rir, rir com quem gostamos será sempre uma das melhores coisas da vida. Eu do alto dos meus 46 aninhos, feitos agora, é o que sinto, o resto teremos sempre: responsabilidades, obrigações, culpas, há até quem tenha arrependimentos (eu curiosamente não sofro desse mal), mas enquanto tivermos com quem rir, quem nos abrace, quem se desvie um tico do seu caminho para nos entregar um beijo a quatro braços, então vale a pena continuar a aprender com a vida a valorizar, cada vez mais, quem o faz. Quem se lembra de nós, hoje e sempre que os dias da vidinha nos permitem parar um bocadinho para nos lembrarmos de viver, de estar, de ser simplesmente. Se fazemos parte desses momentos para alguém e se temos companhia para os nossos, caramba ainda há coisas que fazem sentido. Tanto como estarmos bem sozinhos, de olhos fechados com o sol a bater-nos na cara, como eu estive até há minutos atrás, sentada no chão em frente à janela duma divisão que já foi escritório, onde pensei e cheguei a dizer que poderia ser um quarto, e onde hoje tenho estendido o tapete de ioga (sem uso há duas semanas mas que vou recomeçar assim as dores que me chatearam estes dias me deixem), um caderno rabiscado, blocos e uma manta. O sítio onde a minha pintarolas de quatro patas se aninha ao meu lado enquanto trabalho sorrisos que afinal nem sempre são solitários. Não sei quantos virão mais nem o que se seguirá, já deixei há muito de esperar o que quer que seja. Agora só peço paz, e peço como quem sabe que não pede pouco. Mas se é para pedir... só quem for parvo é que pede pouco, e eu ando a tentar aprender a não ser parva, está visto.
Fui procurar uma imagem que coubesse aqui e neste dia, bati os olhos nestas linhas, e sim faz-me todo o sentido, mesmo que possa parecer pouco clara a relação entre o texto e o poema (guardei a imagem mas não tenho a autoria do poema, se alguém souber por favor avise-me, não gosto de não dar os devidos créditos). O texto sussurra intimidade, a que me forra momentos, e uma urgência de vida, de começos, de beleza, que se poderia assemelhar à urgência do desabrochar dum botão de rosa, que em nada parece ter pressa para a perfeição. Faz-me sentido, e isso basta.
Cada post teu, desculpa se te estou a tocar em algum ponto fraco, parece ter uma grande vontade de recomeçar mas de um auto conhecimento ainda não alcançado... Espero-te bem. Festas felizes
ResponderEliminarSabes Pink, não acredito em recomeços, ninguém volta a começar nada, apenas continua, mas pode continuar de outra forma. Recomeço era começar do zero, era volta a um qualquer ponto de inicio de algo, mas não consegues... tens toda a bagagem que foste colhendo, e ainda bem, mesmo quando não é boa.
EliminarAgora vontade de mudar?
sim, tenho alguma em relação a algumas coisas, outras mudam sem tu quereres, e tu és obrigada a aprender a adaptar-te. Nos últimos 10 anos perdi um tio, perdi um irmão, herdei uma parte duma empresa, fi-la crescer um pouco, vendi-a e fiquei a trabalhar na multinacional que a comprou. Ganhei o inferno entre quatro paredes quando despacharam quem me promoveu lá dentro, aguentei até quase perder a sanidade mental, mas aguentei para juntar coisas suficientes para sair pelo meu pé, mas com tudo a que tinha direito se não tivesse sido vontade minha. Compensou no fim, talvez sim, mas saiu-me do pêlo e da força de espirito (que estava, e esteve, muito perto de esgotar-se, de me perder no processo). Na mesma semana que decidi sair da empresa, perdi o meu pai depois de quase 10 anos de doença e de uns últimos meses de um sofrimento pesado. Nem um mês depois convidaram-me para fazer parte dum novo projecto, uma empresa noutra cidade. Fui, abracei esse projecto. Tenho tido muitas mudanças na minha vida ultimamente, no meio disto tudo desamores, grandes e dolorosos. Muitas perdas de todos os géneros. Talvez o que se sinta nas minhas palavras é vontade de mudar sim, mas mudanças que eu escolha, mais do que aquelas que me escolhem, e daí eu recolher tanto a mim, tenho confirmado e reconfirmado que a maneira que me sinto melhor é sozinha, e é das poucas maneiras que não me sinto nada só. Acho que todos temos no auto conhecimento um processo, e um processo sempre inacabado, mas eu tenho ainda muita vontade de continuar a olhar para dentro, e cada vez mais. E cada dia é uma nova oportunidade, para qualquer coisa. A vida acontece todos os dias... para o ano a minha filha faz 18 anos e eu parece que nem dei conta da miúda virar uma mulher, igual a mim, dizem. A vida acontece todos os dias mas é preciso estar atento para que ela não nos escape.
Ahhh... mesmo que já um tico fora de horas... Feliz Natal, aproveita os teus com a ferocidade duma emergência e um fabuloso 2024 para ti, Pink :)
Tal como o processo de socialização, o auto-conhecimento nunca acaba. Obrigada pelo teu insight, realmente não pode ser um recomeço se já estás com algumas coisas em ti, cristalizadas. Sem dúvidas que tens perdido e ganho, talvez isso faça de ti uma valente. Beijihos
EliminarFeliz Natal Vi, e que o novo ano seja muito melhor do que este, são os meus sinceros pensamentos para ti:)
ResponderEliminarBom Natal, Legionário e que o 2024 te traga tudo o que precisas para seres muito feliz com as pessoas que amas. :)) um grande beijo para ti
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